sábado, 18 de outubro de 2025

adeus, meus sonhos

 

                         


     ADEUS, MEUS SONHOS  _  Álvares de Azevedo (1831-52)

   Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
   Não levo da existência uma saudade!
   E tanta vida que meu peito enchia
   Morreu na minha triste mocidade!

   Misérrimo! votei meus pobres dias
   À sina doida de um amor sem fruto...
   E minh’alma na treva agora dorme
   Como um olhar que a morte envolve em luto.
 
   Que me resta, meu Deus?!... morra comigo
   A estrela de meus cândidos amores,
   Já que não levo no meu peito morto
   Um punhado sequer de murchas flores!

      Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos, séc 19

     nota_
    pranteio - choro
    sina  -  destino; fado
    cândido - puro; ingênuo; torcedor do vasco

 . . . . . .  .  .  .  .   .   .

poeta diz que está morrendo porque seus sonhos se esfarelaram, não viraram realidade. houve desilusão amorosa: ele gastou seus dias em um "amor sem fruto", disse ele, no verso 6. como seus sonhos deram errado, ele decide se vingar: "morra comigo a estrela...",  ou seja, vai matar os sonhos que ficaram em sua cabeça. o problema é que ele vai junto. 

parece que só o que valia a pena, dentro do amor, era a perfeição, sem tristeza, sem melancolia. olhem, essa visão de que o amor que vale a pena  é só o amor romântico vem durando até hoje.  

domingo, 12 de outubro de 2025

discurso que isola pessoas

                                              


mariane santana, professora e pensadora, é categórica na leitura de um discurso neoliberal que vem levando muita gente a uma situação complicada. compra-se a ideia, hoje, de que cuidando do corpo, dormindo tranquilo, tomando água e afins, a vida será melhor e haverá sucesso. o que está fora do discurso é o contexto social ligado à pessoa que quer encarar essa ideia de curar-se dos males existentes e os possíveis.

olhem, é terrível. esse discurso neoliberal individualista faz determinada pessoa crer que se há desconforto -- no trabalho ou na mente -- ele seria responsabilidade da própria pessoa que não se cuidou bem. o tal discurso do auto-cuidado acima de qualquer coisa desconsidera, de fato, a condição social existente. desconsidera seu status, seu entorno. então, lentamente, silencia essa figura e faz com que ela não questione -- por exemplo -- a chance de estar sendo explorada e passe a crer que é preciso estar sempre 100% em dia consigo mesma e pronto. não critico o cuidado que pessoas tenham consigo próprias, nada disso. a questão é como isso pode afetar a visão de mundo deste alguém: desde consumo do noticiário até o momento de uma eleição, a participação política necessária. troca-se a sociedade e o conhecimento de mundo por uma solidão forçada. é alienação o nome.
enfim, pessoas fazem escolhas. o mundo continua girando. que século, meu deus!

  . . . . . .  .

  mais sobre o tema






quinta-feira, 9 de outubro de 2025

letra líquida - romance

 


letra líquida" é obra que mistura de ficção, crítica literária e referências culturais brasileiras em uma narrativa fluida e criativa.

sim, eu consegui sintetizar o livro em um parágrafo curto. mas não é só isso. ao longo das páginas, existem interações entre personagens fictícios e elementos da cultura literária e também da história do brasil,. tudo misso cria cenário onde a literatura ganha vida -- de fato -- e se entrelaça com o cotidiano dos protagonistas. eles são três: gaspar, moema e o narrador. eles se envolvem ou são envolvidos pela indígena tupinambá.

moema é personagem central. ela nasce de um livro brasileiro, lá no século 18, chamado "caramuru", do frei durão. pois que o enredo gira em torno desta indígena tupinambá, figura enigmática e quase mitológica. existe, nessa trama toda, uma biblioteca selvagem onde livros e versos se misturam de maneiras inesperadas.
olhem, 
uma tempestade, muito desejo e a chance da literatura salvar uma vida é o que sustenta esse livro.
quando os três -- gaspar, moema e o narrador -- resolvem morar juntos, o que acontece?... aí você precisa ler o livro!

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 clique aqui para ter o seu !  


terça-feira, 7 de outubro de 2025

mês de professor e professora ganharem parabéns

 


é outubro, aqui.
pelas escolas, mês de ganhar algum parabéns, ganhar tapinha nas costas e um "vamo-que-vamo"... isso tudo sem menosprezar os remédios. 

a classe trabalhista de professores é uma das mais desunidas do país, isso a gente sabe. educadores e educadoras se contentam, até aqui, em pular de prédio em prédio, para dar conta de jornadas exaustivas por semana, em troca de algo em torno de cinco salários mínimos. cinco ou quatro.
não sei, mesmo, porque ainda há quem continue. em 2025, eu ainda sou um desses. 
diante de estudantes, estou sempre na tentativa de deixar claro que educação não é informação, que aula não é descrição de fatos... enfim, está cada vez mais difícil. principalmente, no universo da classe média. essa juventude desenvolveu uma capacidade de se encapsular que é notável. ela é filha das gentes que acreditam no fim dos sentimentos ruins e, por isso, a ideia é não sofrer. então,  ninguém se expõe. e a vida segue, com estudantes em meio a laudos médicos, terapias, tristeza, solidão, crises de ansiedade... tudo isso antes dos quinze anos de idade.
olhem, para essa juventude é ensinado que o tédio, a decepção ou a crítica, tudo isso é mau. logo, melhor evitar. é uma geração covarde. ia escrever "geração z", desisti.

então, temos sempre isso: professoras e professores tentado valorizar esse espaço privilegiado -- sala de aula -- para discutir a vida, enquanto parte dos estudantes à sua frente está dopada de remedinhos, a outra parte tenta escapar dali em pensamento, enquanto uma miníscula parcela aproveita. e essa minúscula plateia, geralmente composta por no máximo uma pessoa, é que faz tudo valer a pena. mesmo que este ou esta estudante seja fraca nos estudos, seja assertiva demais ou simplesmente olhe para o professor ou professora como quem vê futuro bom, então vale a pena. é o tal "plantar semente".

parabéns, professoras e professores que ainda resistem. vocês estão de parabéns.

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  ah, sobre a tal geração citada acima, vai essa tirinha
  de @quadrinhosdelavita (instagram), 2025



aqui, charge retirada do site "glamurama.com.br"



sábado, 4 de outubro de 2025

isto não é um sonho

 

                     
                                               [ isto não é um sonho ]


   sonhando acordado
   fico tentando saber quem sou

   um pensamento forma outro
   esse outro forma outro
   todos conseguem ir ao passado

   fuçam, xeretam, resmungam
   nenhum volta

   então

   mando um outro pensamento
   buscar os que se perderam

   daí eu durmo

  

 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

iniciação - josé paulo paes

 


      I N I C I A Ç Ã O

Com os olhos tapados pelas minhas mãos, os dois seios de A. tremiam no antegozo e no horror da morte consentida. 

De ventosas aferradas à popa transatlântica de B., eu conheci a fúria das borrascas e a combustão dos sóis. 

 Pelas coxas de C. tive ingresso à imêmore caverna onde o meu desejo ficou preso para sempre nas sombras da parede e no latejar do sangue, realidade última que cega e que ensurdece.

          [ prosas seguidas de odes mínimas, j paulo paes ]

   . . . . .  .  .  .   .   .    .
              nota_
              imêmore: sem memória

texto com pretensão sensual e temperos poéticos.
o orgasmo seria essa "morte consentida" ... o que chamavam na frança de "pequena morte", ou seja, o orgasmo era visto assim por franceses e francesas do mundo acadêmico. então tá.
olhem, de "A" para "C", passando por "B", uma descrição de relação física com mulheres. o prazer, aqui, é uma travessia turbulenta (horror, borrascas, realidade que ensurdece). a iniciação pode ser referência ao relacionamento físico, sexual. um aprendizado possível, nesse campo. mas a visão, aqui, é bem hétero, masculina mesmo, quase tóxica. as figuras femininas nem nome têm. a prioridade do desejo é só do poeta, masculino, no caso. aqui, o texto destoa dos demais, do livro. destoa porque é incoerente, forçado, diminui a figura feminina. por isso, não gostei. fazer o que.

uma pergunta: é sobre amor, o texto?

 . . . . .  .  .   .    .

   saiba mais!



segunda-feira, 29 de setembro de 2025

a rosa das dores

 


carlos ferber foi meu aluno, tempos atrás. não me esqueço. corria o ano de 2008 e ele estava atento, ouvindo breve comentário que eu fazia, em sala de aula, sobre "rosa", depois de lermos "primeiro motivo da rosa", poemeto singelo da não menos singela cecília meireles. estávamos lendo também "rosa do povo" (drummond) e já havíamos comentado "o nome da rosa" (eco), noutra oportunidade, daí o tema botânico e filosófico se fazer presente. 
conversa vai conversa vem, ferber interfere para contar que a tal flor se mantém mais tempo sem murchar se colocarmos, no vaso com água, um comprimido de aspirina. fiquei pensando quais seriam as dores de uma rosa para que pudesse usufruir de renomado quitute. 

cartola tinha dito que as rosas não falam, mas, pelo jeito, podem ter enxaqueca, daí aqueles espinhos todos, não sei. mas fica a dica do século, caso suas rosas reclamem de dor.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

uns vendem, outros dão

 

                                    [ a vendedora de amores, j. vien, séc 18 ]


vem do século
18 a tela de joseph vien, "a vendedora de amores", em que uma moça, humilde, ajoelha-se numa rica sala, diante de figura nobre e de sua acompanhante. a singela vendedora tira de uma cesta um míni-bebê, pela asa, sob o olhar embaçado da provável compradora. não é um anjinho, vou avisando. trata-se de representação do filho de vênus, o cupido. o nome "amor", no plural, indica tudo. amor, cupido.

olhem, o mercantilismo iria se transformar no capitalismo, já sabem e era importante marcar posição através daquilo que o dinheiro pudesse comprar. os amores, na cesta, são novos, gordinhos, parecem inofensivos. talvez sejam. a questão é o motivo que leva à compra. as figuras femininas, na cena, irão usar a compra juntas? 
e
ngraçado que quem oferece os amores é figura de classe social inferior aos luxos que ali na sala se impõem. a vendedora está com traje simples, mais escuro e um pano lhe cobre a cabeça, sinal de que anda bastante, deve ter vários clientes. 
agora, as perguntas que valem uma vida: 
de onde viriam esses amores? bastaria um? quanto custa um amor, daquela cesta?  

uma coisa é certa: vendidos assim, devem ter prazo de validade.


prometeu devia parar de sangrar

           

                                                  [ prometeu - nicolas adam, séc 17 ]
        

vem do grego este termo "prometeu" que significa "premonição". na mitologia, ele teria o poder de prever futuros. então, nesta narrativa grega, prometeu é condenado a ficar acorrentado, acho que isso já se sabe. um detalhe importante está no fato de que quem o acorrenta é vulcano -- seu irmão -- sob ordens de júpiter. por quê o castigo?  o titã prometeu, temendo que raça humana fosse dizimada, rouba parte do conhecimento do olimpo (matemática e arte) e entrega aos homens. isso garantiria uma suposta superioridade sobre os outros animais. no limite, podemos dizer que esse é o mito da criação do ser humano, concordam? agora, o que esse povo vem fazendo hoje com o conhecimento recebido, nem prometeu seria capaz de prever. prometeu é condenado a ficar numa pedra, na cítia. fica acorrentado. seu superior o abandona lá. ele tem uma ferida no flanco, por conta do abutre (cão alado) que lhe come o fígado. sim, você percebeu que essas imagens são bem parecidas com as do novo testamento cristão, surgido séculos depois desta história do escritor ésquilo. mas acho que não estão preparados pra essa conversa.
continuando com a história do dramaturgo: quem surge para consolar o titã prometeu é io. não resolve. pra piorar, ele se apaixona por io, fato que causa ciúme em juno, acarretando numa condenação a io: vagar pelo mundo perseguida por uma mosca gigante. mais terrível que isso só sendo vascaíno.
olhem, prometeu tem crise de carência afetiva. entregou tesouros a outros e, no mínimo, esperava reconhecimentos. errou feio, capotou. se apaixona por io e vê seu sentimento se transformar em tragédia. combo dos horrores completo.

tenho sequelas de um câncer e isso potencializa o que seria a tal carência afetiva. fato. de onde vem essa carência? nas coisas do início da vida que insistem em moer meu caminho, hoje, sexagenário e com disfunções fisiológicas. a carência afetiva ainda está sem dimensão pra mim, então isso não ajuda a alcançar harmonias. essa carência fica me lembrando que prometeu, hoje, mora no espelho. 
   . . . . . .  .  .  .   .   .    .

    saiba tudo - 



quinta-feira, 18 de setembro de 2025

em setembro de 2025: silvia e adler

 

                                                                      os noivos e suas mães


fui ao casamento de silvia e adler, neste setembro. campo limpo paulista. as famílias são de jundiaí. bia kapros, mãe da noiva, era quem eu mais conhecia até então. adler e silvinha são companhia recente. e são lindos.
a cerimônia foi em uma igreja iluminada pelo sol das 16h, toda envidraçada, estrutura de madeira e tudo com leveza e cores entre o esverdeado e o terracota. o detalhe do raminho de alecrim, nos guardanapos sobre os pratos, é um sopro de energia bem-vindo.
teve música, teve leitura, teve protocolo, bênçãos, lágrimas, criança, idosos, riso, energias e casamento. até o carro com latas amarradas na traseira foi detalhe clássico. 
eu gostei porque cerimônia e festa abraçavam os convidados. não fui só plateia, mesmo na festa. suave, jovem, mesmo com muitos convidados acima dos 60 anos. leveza. acho que é a palavra deste dia 13 de setembro. curti. agradecemos! eu e a bia balau!


comunidade n. senhora aprecida

comunidade n. senhora aparecida



noivos _ 2025






domingo, 14 de setembro de 2025

houston, temos um problema

 

                                        
                                      lua um pouco desarrumada depois de 1969

emoção e razão. isso. leio em "autopsicografia" que a emoção entretém a razão, quando ele, poeta, cria seus versos, sua obra. quase sempre é bom misturar um e outro, como compartilhar o desejo e os orgasmos possíveis. emoção não é a perda da razão, sabia?
olhem, em julho constumam comemorar a chegada do homem à lua. foi em 1969. eu vi, pela televisão, acho que era ao vivo. "um pequeno passo para um homem, um grande passo para humanidade", poetizava armstrong, um segundo antes de sujar a lua com seu pé de botina branca. em 2025 são 56 anos, desde então. 56. somando, dá onze. dizem que é número ligado à intuição. que coisa. 

a lua está cheia aqui, sobre a cidade. da minha janela vejo uma forma de coelho pregada nela. muita gente discorda, outros dão risada. pé de coelho. dizem que dá sorte, mas eu sei que armstrong usou o pé esquerdo pra pisar. e onze era o número da cápsula voadora. onze. minha intuição diz que o ser humano não precisava ir tão longe pra provar que não só da razão vive o homem.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

casa

 


setembro, 2025. voltei a um processo terapêutico, voltei a remédio antidepressivo, voltei.

até meados deste ano, 2025, tinha acreditado em avanços e, por algum instante, considerei também que se sentir bem, mentalmente, seria uma senha para abolir medicações que vinha consumindo há tempos... errei. bastou um evento cotidiano pra eu desmoronar em crise de ansiedade e afins. o evento em si é só gota que faltava. pote tava cheio de mágoa e farelos de antigas dores.
voltei. remédio, remédio.
ainda na minh
a cabeça, essa história do cuidado terapêutico rima com dilema, rima com problema que se tem de resolver logo... sei que não é assim -- no campo da saúde mental --, mas são as heranças ancestrais, as inseguranças. enfim, mil coisas. a terapia está indo bem. isso é acalanto.
o trabalho em sala de aula segue, talvez por inércia, talvez por benevolência de quem me contratou. aposentadoria já veio, porque são 39 anos já, em 2025 nessa toada -- a conta começa em 1986, quando carimbam minha carteira de trabalho. daí que não parei, desde então. hoje, trabalho segue. estudantes de classe média, aqui ao meu redor, não são mais estudantes, são plateia. assistem. têm pressa, reclamam de tudo, muitos, hoje, vítimas do excesso de telas, desde a primeira idade... não sabem o que esperar. é dopamina o tempo todo. só pode dar errado. e dá. mas não vou condenar. são escolhas deles. escolhas das famílias deles e, muitas das vezes, do próprio modus operandi das escolas. por essas e outras, voltei aos remédios. processos terapêuticos, mais reflexões, mais elaborar conduta... cansa. talvez fosse hora de dizer não a tudo isso. 

sábado, 30 de agosto de 2025

o futuro era melhor antigamente - veríssimo


capa 49a edição - 1982
[ na foto: fraga e juska ]

hoje, 2025, vou pela casa dos 60 pra 61 anos. é muito, se pensar no que vive um ser humano, no braisl. bem pouco para obra literária, principalmente de luís fernando veríssimo. essa sim, vai durar mais do que eu. 

vale uma lembrança: em 1982, eu estava no ensno médio e tive nas mãos "o analista de bagé", contos deste veríssimo. ainda o tenho, como vêem na foto acima. olhem, foi a primeira e última vez que dei muita gargalhada lendo livro. muita. os textos de rubem braga também divertem. juó bananere, oswald ou mesmo alguma prosa do drummond. até "o cão sem plumas" do allen me divertiu. mas não como "o analista de bagé". depois dele, nunca mais gargalhei com literatura. 

na verdade, apesar da fama do brasileiro ser piadista, o caso da literatura é de uma seriedade ímpar. poucos se atrveram a entrar no universo da graça, da piada. vejam: martins pena; gil vicente; oswald de andrade, campos de carvalho e mais um ou dois, além de luís fernando, fizeram publicações nessa linha do humor.  contando, não dá sete escritores, em tantos anos, desde pero vaz. é quase nada. nossa literatura, lavada de cristandade, filha das tradições lusas é densa, trágica, sarcástica e, às vezes, bem profunda. mas quase nada com leveza e humor. daí essa impotância de luis fernando.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

a raposa de dentro

                                           

[ capa do disco "caça à raposa", 1975 RCA ]


versos de "caça à raposa", joão bosco e aldir blanc:

 O olhar dos cães, a mão nas rédeas
  E o verde da floresta
  Dentes brancos, cães
  A trompa ao longe, o riso
  Os cães, a mão na testa
  O olhar procura, antecipa
  A dor no coração vermelho
    (...)
  Uma cabeleira sobre o feno
  Afoga o coração vermelho
    (...)

 . . . . .  .  .   .   .    .

não é preciso muito cão para seguir trilha do desejo

cão das lágrimas de saramago brilha

cão nunca foi marca de amizade 

os lobos sim

rômulo remo e os lobos guará

o coração vermelho

chapéu vermelho

na

floresta

fogo

fog


quinta-feira, 7 de agosto de 2025

palavra e pulso

 


"Um fóssil de um dinossauro que viveu há cerca de 230 milhões de anos e, provavelmente, tinha 2,5 metros de comprimento foi encontrado por pesquisadores ligados à Universidade Federal de Santa Maria (UFMS) em um sítio fossilífero localizado no município de São João do Polêsine, interior do Rio Grande do Sul. (...)

                          [tv cidade10 - julho 2024]

   . . . . . .  .  .  .   .   .

não tenho conta de quantas vezes fiquei olhando pela janela procurando dinossauros ou então aqueles ptero–qualquer-coisa que voam e gritam

é imagem recorrente procurar, em cenários amplos, essas criaturas que de tão distantes ficam no imaginário e quase se transformam em mitos... 

ter dinossauro de estimação é bom porque eles demoram pra morrer e, mesmo depois de extintos, ainda continuam vivendo

vivendo e surgindo desde a lama primoridial

hoje
gozando debaixo da terra 
surgem adultos
muitas vezes já mortos

  . . . . . .  .  .  .   .

saiba mais sobre mim - clica

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

votar - educação eleitoral

 



votar

como funciona o tal quociente partidário?

e aquele candidato que puxa votos?

assista-nos !




terça-feira, 29 de julho de 2025

asas que a gente não tem

 


           Não salto, mas sou carregada
           Por asas que a gente não tem
           A luz não me fulmina os olhos
          Nem vejo bem

             [ recanto escuro, caetano, séc 21 ]


nunca ouvi “recanto escuro” por inteiro.

mas só a voz de gal me fascina então tudo certo.
saber que posso ser carregado por asas que eu não tenho é ter certeza de que há o outro. ou algum outro. pronto. 
pode ser em pele, paina, pó ou no embalo da rede... 

nunca ouvi "recanto escuro" por inteiro. a sonoridade e o palavreado criam uma certa energia que procuro evitar. parte dela remete ao tempo da ditadura militar e à vida do compositor da canção, sim, mas não é só isso. nunca atravessei "recanto escuro" até o fim. é um defeito meu ou uma virtude. as imagens de gal são uma compensação, incluindo a capa do disco "índia" lá no século 20 que bem dialoga com "a criação do universo", tela do courbet, século 19. mas não sei se estão preparados para essa conversa. em sala de aula nunca expus o quadro. não sei se meu público não suportaria ou merecereria. nunca ouvi "recanto escuro" por inteiro.  "recanto..." é letra do caetano, então a gente ama e tudo fica oceânico, fica um grande mar e nessa gosma do amar é o gel em que escorrego pro fundo e um fundo conhecido mas hoje sem nome porque é bom não precisar dar nome às coisas nem ao desejo feito completado porque sem nome não há memória, então não se sofre se não há memória; sem nome não preciso desse jorro falso que misturo com sangue.

sábado, 26 de julho de 2025

tudo que move é sagrado

 



beto guedes

"tudo que move é sagrado" é o primeiro verso da canção "amor de índio", parceria com ronaldo bastos, 

olha:
 
      tudo que move é sagrado
       e remove as montanhas
      com todo cuidado, meu amor
       enquanto a chama arder
      todo dia te ver passar
        tudo viver a teu lado
      com o arco da promessa
        do azul pintado pra durar 

         (...)

      sim, todo amor é sagrado
       e o fruto do trabalho
      é mais que sagrado
          meu amor
      a massa que faz o pão
      vale a luz do seu suor
        lembra que o sono é sagrado
      e alimenta de horizontes
     o tempo acordado de viver

                    (...)

e então

o que te move e ainda é sagrado?


quinta-feira, 24 de julho de 2025

as meninas - lygia f telles

                         


 "as meninas" _  1973 

 lygia f telles

polifonia, discurso indireto livre, prosa poética, narrativa mais lenta que honda civic a álcool, "as meninas" é prosa às vezes verborrágica, revelando quatro moças em ebulição e necessitando encontrar seu próprio espaço. sim, eu disse quatro.  

 saber mais? 

 vídeo aqui



domingo, 20 de julho de 2025

a saudade é o revés de um parto

                           
                                             [ zizi possi & chico buarque ]

chico buarque

ele é o autor deste verso que está na canção "pedaço de mim"
a canção é de 1978, para o show "ópera do malandro"

veja:

 Oh, pedaço de mim
 Oh, metade afastada de mim
 Leva o teu olhar
 Que a saudade é o pior tormento
 É pior do que o esquecimento
 É pior do que se entrevar

 Oh, pedaço de mim
 Oh, metade exilada de mim
 Leva os teus sinais
 Que a saudade dói como um barco
 Que aos poucos descreve um arco
 E evita atracar no cais

 Oh, pedaço de mim
 Oh, metade arrancada de mim
 Leva o vulto teu
 Que a saudade é o revés de um parto
 A saudade é arrumar o quarto
 do filho que já morreu

   (...)

  . . . . . .  .  .  .   .
saudade é o revés de um parto
parto
e você, do que está grávido(a)?

   . . . . .  .  .   .    .

 saiba mais sobre chico -


quarta-feira, 16 de julho de 2025

se esta rua fosse minha

 



no poema "evocação de recife", do pernambucano manuel bandeira, lemos que uma das preocupações do poeta é com a possível mudança no nome de uma rua, como a do "sol" para, possivelmente, "dr. fulano de tal".
uma das ruas mais movimentadas da cidade de são paulo (e talvez a maior, em extensão), chama-se "alcântara machado", apenas conhecida pelo apelido : radial leste. alcântara, para quem não sabe, foi contemporâneo de bandeira, lá pelos anos 1920 e 1930, escreveu, dentre outros, "brás, bexiga e barra funda", crônicas divertidas que ele mesmo quis chamar de "notícias", cujo tema é a imigração italiana.
dar nome a ruas, avenidas ou praças não é tarefa difícil. gente importante não falta. o estádio do são paulo futebol clube é o "cícero", mas todo mundo conhece por morumbi. ou, hoje, com nome de chocolatinho.
o maracanã, no rio maravilha, tem nome : mário filho (irmão de nélson rodrigues), por acaso, escritor também, como alcântara. engraçado, nome de estádio batizado no meio literário. futebol e poesia sempre deram samba.
sócrates (1954-2011), destaque do corínthians e da seleção brasileira, não tem homanagem marcante em ribeirão preto, no estádio em que se projetou, o "santa cruz", que é do botafogo. por outro lado, médico por formação, não seria de todo mal que alguma rua se chamasse  não "dr. fulano de tal", mas dr. sócrates.


sábado, 12 de julho de 2025

a bunda - carlos drummond de andrade

 

[ vênus calipígia, séc II a.c ]

         A  BUNDA

   A bunda, que engraçada.
   Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

   Não lhe importa o que vai
   pela frente do corpo. A bunda basta-se.
   Existe algo mais? Talvez os seios.
  Ora — murmura a bunda — esses garotos
  ainda lhes falta muito que estudar.

  A bunda são duas luas gêmeas
  em rotundo meneio. Anda por si
  na cadência mimosa, no milagre
  de ser duas em uma, plenamente.
  A bunda se diverte
  por conta própria. E ama.
  Na cama agita-se. 

 Montanhas avolumam-se, descem.
 Ondas batendo

  numa praia infinita.

 Lá vai sorrindo a bunda. 

  Vai feliz
  na carícia de ser e balançar.
  Esferas harmoniosas sobre o caos.

  A bunda é a bunda,
  redunda.

      [ c. drummond de andrade, "amor natural", 1992 ]

  . . . . . .  .  .   .   .

drummond pediu que sua coletânea de poesias sensuais ou supostamente eróticas fossem publicadas depois de sua morte. e assim se fez.
aqui, é bunda sobre o caos. bunda montanha e sinuousa, a bunda não se desculpa. ela vai. porque 
a bunda é alegre, do ponto de vista do outro. 

bunda é sonoro plenoasmo. é onomatopeia de desejo, talvez.
para uma bunda platônica é preciso outra bem próxima

bunda não precisa explicação

bunda é

pedido de bunda não se nega

bunda é exploração do olhar

bun

   . . . . . .  .  .   .   .


                
           [ "psiquê reanimada pelo beijo de amor", canova, 1787-93 ]

               
          [ "centauro enlaçando uma ninfa”, tobias sergel, 1778 ]
 
 
   
                            
                    
                            [ "dircè" - bertolini, séc 19 ]
                  

                                   
                           [ "mercurio e psiquê", adriaen de vries, 1593 ]


quarta-feira, 2 de julho de 2025

turma do "eu-quero-agora" usa i.a. para fazer terapia

 



não tem como dar certo.

hoje, 2025, são milhares de seres humanos que usam inteligência artificial para conversas aleatórias e distração. essas milhares de pessoas chamam isso de terapia. não é. muita gente para na frente da tela e digita partes de sua vida e busca interação com o que chamam "inteligência". só que não.

os modelos de linguagem digital são alimentados por gente que cria e reforça dilemas psíquicos. ou seja, as inteligências artificiais usadas para cuidados com saúde mental  são um erro profundo. é tratar doença com o aquilo que causa a doença. pedro paulo bicalho, do conselho federal de psicologia já alertou para a questão. é grave. essa história de suposta trapia com inteligência artificial é o que se chama de brian rot, hoje em dia. ou seja, a podridão mental causada pelo consumo excessivo de conteúdos digitais. a situação é bizarra, pois parte do conjunto de coisas que detonam saúde mental de pessoas é usada como terapia! não dá! o poste mijou no cachorro! 

a cultura da conversa on line e a chance de interagir com essa plataforma (i.a.) 24h por dia, 7 dias por semana, encobre o que um terapeuta humano pode fazer pelo analisado. é estupidamente tentador. mas é estúpido. e muito grave.

 . . . . .  .  .   .

 aproveitando...


destaques

adeus, meus sonhos

                                 ADEUS, MEUS SONHOS  _  Álvares de Azevedo (1831-52)    Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!    Não levo...

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