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terça-feira, 29 de julho de 2025

asas que a gente não tem

 


           Não salto, mas sou carregada
           Por asas que a gente não tem
           A luz não me fulmina os olhos
          Nem vejo bem

             [ recanto escuro, caetano, séc 21 ]


nunca ouvi “recanto escuro” por inteiro.

mas só a voz de gal me fascina então tudo certo.
saber que posso ser carregado por asas que eu não tenho é ter certeza de que há o outro. ou algum outro. pronto. 
pode ser em pele, paina, pó ou no embalo da rede... 

nunca ouvi "recanto escuro" por inteiro. a sonoridade e o palavreado criam uma certa energia que procuro evitar. parte dela remete ao tempo da ditadura militar e à vida do compositor da canção, sim, mas não é só isso. nunca atravessei "recanto escuro" até o fim. é um defeito meu ou uma virtude. as imagens de gal são uma compensação, incluindo a capa do disco "índia" lá no século 20 que bem dialoga com "a criação do universo", tela do courbet, século 19. mas não sei se estão preparados para essa conversa. em sala de aula nunca expus o quadro. não sei se meu público não suportaria ou merecereria. nunca ouvi "recanto escuro" por inteiro.  "recanto..." é letra do caetano, então a gente ama e tudo fica oceânico, fica um grande mar e nessa gosma do amar é o gel em que escorrego pro fundo e um fundo conhecido mas hoje sem nome porque é bom não precisar dar nome às coisas nem ao desejo feito completado porque sem nome não há memória, então não se sofre se não há memória; sem nome não preciso desse jorro falso que misturo com sangue.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

altino arantes 543

 

  
                              [um dos poucos buracos no mundo com memória ]

em frente a casa de meus pais, em ribeirão preto, havia um terreno grande, com uns buracos cheios de formiga e pequenos lagartos cinza e verde, alvos perfeitos para nossas pedradas. era o começo dos anos 1970. chamávamos um dos buracos de "base". eu e irmão renato íamos pra lá e olhávamos o mundo de outro jeito, pelo menos de baixo pra cima.
brinquei ali na rua altino arantes, com dimas, roque (um cachorro preto e branco), jussara, quenia e mais uns outros moleques de uma vila, na mesma quadra. do cachorro, na verdade, eu tinha medo, mas não faz diferença agora.

as pessoas perdi com o tempo; a "base" não existe mais porque demoliram o terreno, que agora se chama "conjunto de casas". aliás, várias casas, nessas últimas décadas foram feitas sobre nossa base. já tive vontade de voltar pra lá, tempos atrás, meter-me num buraco, qem sabe de repente sairia como personagem de livro de guimarães rosa. ele gostava de um furo no chão, uma vereda escura... mas rosa já morreu e buracos não costumam ter memória.
um dia ainda caio em um.
todos caem.

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terça-feira, 27 de julho de 2021

queimar monumento é igualar-se ao que se quer combater

 

são paulo. bairro de santo amaro. julho 2021.
o ataque a fogo contra a estátua de manuel de borba gato (1649-1718) é assustador.
borba gato era genro de fernão dias -- aquele das esmeraldas -- e foi bandeirante brabo. é necessário rever homenagens desse tipo sim, isso é fato. protestar ante esse símbolo de violência é legítimo. querer a remoção da peça do seu lugar também é.

agora, simplesmente vilipendiar o monumento como se fosse a solução para os supostos crimes que ele cometeu no passado é burrice. 
não é apagando a história que se vai compreendê-la e melhorá-la.
se assim fosse, era só mudar o nome das ruas e avenidas "floriano peixoto" brasil afora, queimar estátuas de getúlio vargas, alterar o nome da rodovia castelo branco que tudo ficaria harmônico e mais democrático.. não dá.
necessário é não mais registrar logradouros públicos com nome de gente que cometeu crimes. simples assim.
respeito quem tem se manifestado contra a existência de estátuas como as de borba gato. mas quem queima não respeito não.
existem inimigos maiores, hoje.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

persistindo machado: 178 anos



                                               [a persistência da memória - s dali]


em muitos sites jornalísticos -- ou não -- é possível ler, hoje, junho, que machado de assis completaria 178 anos. pior: alguns complementam: "se estivesse vivo".
vergonha alheia.
o naufrágio do titanic (abril 1912), então, "completaria" 105 anos, se ainda estivesse afundando.
o grande incêndio de londres (setembro 1666) "completaria" 351 anos, se ainda estivesse ardendo.
acho parnasiano demais essa ressalva do vivo ou morto. quantos anos teria elvis? che guevara? sartre, fernado pessoa, shakespeare ou você que me lê? quanto anos teriam ?? nada disso! essas pessoas nasceram, marcaram história e completam xis mais um ano a cada ano. simples assim.
como diz o amigo eduardo castro, o chato sou eu.

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destaques

adeus, meus sonhos

                                 ADEUS, MEUS SONHOS  _  Álvares de Azevedo (1831-52)    Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!    Não levo...

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