A BUNDA
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora — murmura a bunda — esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se.
Montanhas avolumam-se, descem.
Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda.
Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda.
[ c. drummond de andrade, "amor natural", 1992 ]
. . . . . . . . . .
drummond pediu que sua coletânea de poesias sensuais ou supostamente eróticas fossem publicadas depois de sua morte. e assim se fez. bunda sobre o caos. bunda montanha e sinuousa, a bunda não se desculpa. ela vai.
aqui a bunda é alegre, do ponto de vista do outro. bunda -- com perdão da redundância -- é sonoro plenoasmo. é onomatopeia de desejo, talvez.
para uma bunda platônica é preciso outra bem próxima
bunda não precisa explicação
bunda é
pedido de bunda não se nega
bunda é exploração do olhar
bun
. . . . . . . . . .
[ "psiquê reanimada pelo beijo de amor", canova, 1787-93 ]
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