Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! Não levo da existência uma saudade! E tanta vida que meu peito enchia Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! votei meus pobres dias À sina doida de um amor sem fruto... E minh’alma na treva agora dorme Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?!... morra comigo A estrela de meus cândidos amores, Já que não levo no meu peito morto Um punhado sequer de murchas flores!
Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos, séc 19
nota_ pranteio - choro sina - destino; fado cândido - puro; ingênuo; torcedor do vasco
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poeta diz que está morrendo porque seus sonhos se esfarelaram, não viraram realidade. houve desilusão amorosa: ele gastou seus dias em um "amor sem fruto", disse ele, no verso 6. como seus sonhos deram errado, ele decide se vingar: "morra comigo a estrela...", ou seja, vai matar os sonhos que ficaram em sua cabeça. o problema é que ele vai junto.
parece que só o que valia a pena, dentro do amor, era a perfeição, sem tristeza, sem melancolia. olhem, essa visão de que o amor que vale a pena é só o amor romântico vem durando até hoje.
elísio - referência a lugar mitológico de paz e felicidade
empós - após; depois
leda - alegre
ínvios - caminhos árduos; difíceis
rociada - orvalhada
plangente - o que lastima; entristece
juncam - cobrem de folhas ou juncos [ certo tipo de planta ]
turba - multidão; desordem
agros abrolhos - lugares com espinhos
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em noites silenciosas, cheias de perfume, o eu lírico se lembra com carinho da juventude, quando a vida parecia leve, cheia de flores, e ela era feliz, correndo atrás de borboletas acreditando que o mundo seria melhor um dia, como nas letras do grupo cranberries. contudo, no presente, existe dor. mesmo assim, ela aceita esse sofrimento, porque é a poesia que dá sentido à sua vida. através dela, ela se sente elevada a outros mundos, cheios de beleza, natureza e imaginação. por isso, ela valoriza até mesmo a dor, pois se afasta das confusões do mundo (da turba que segue caminhos errados) e se aproxima da arte, que a faz enxergar tudo de forma mais clara, incluindo poder rever o passado.
ébrio - que é tomado de sentimento intenso; bêbado
ditosa - de boa sorte; bom destino
báratro - local com grande profundidade
junquilho - planta aromática
embalde - em vão; inutilmente
olor - cheiro; odor
almo - bom; venerável
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eu lírico está melancólico. procurou no tempo da juventude alguma comepensação a esta tristeza do momento. mas encontrou uma flor morrendo. a conclusão, ao final, é que só resta ao crente aceitar o fim e ir ao céu. é uma esperança, na verdade. esta flor que morre é a representação da transitoriedade da juventude. apesar do viço, da beleza, ela acabará logo. é triste. é o romantismo.
nota da autora: as duas primeiras estrofes desta poesia aludem
ao projeto de constituição elaborado pelos membros da constituinte de 1824, no
qual todos os grande princípios da liberdade eram solenemente reconhecidos.
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notas_
merencória – melancólica, triste
sendálio
– termo raro: pode significar o
passado ou a censura
fanal - fonte de luz; aquilo que serv de guia
rutila – brilha, cintila
báratro – abismo; inferno
antíteo
– qualifica um traidor; contrasta
com ideias de liberdade
rorando – rorejando - orvalhando, gotejando
andradas – referência à família de josé bonifácio
e seus dois irmãos: antônio carlos e
martim francisco; especialmente bonifácio é considerado patriarca da independência
como se
vê, o poema trata da frustação do eu lírico diante do que foi feito dos ideais
políticos estabelecidos na constituinte de 1824 -- dia 25 de março--, ou seja, o manto da constituição -- que melhoraria a vida do povo -- foi salpicado de lama, “ferida pela mão
da tirania”.
atenção para o verso: "roubaste ao povo a palma do triunfo", ou seja, a liderança política que se seguiu à constituição de 1824 não cumpriu o que estava no papel.
a
linguagem repleta de adjetivos e metáforas mantém o texto no estilo romântico,
porém, é uma crítica às políticas sociais em geral. o país não seguiu os caminhos que a poetisa acreditava que seriam os melhores: houve traição, este é o teor do poema “25 de março”.
claramente, há proximidade com o que fez castro alves quando
tratou da escravatura com intenção crítica.
Desprezo
as pompas loucas, desprezo os esplendores,
Trilhar
quero um caminho orlado só de dores:
E além,
nas solidões, à sombra dos palmares,
Ao
derivar da linfa por entre os nenúfares,
Quero
ver palpitar, como em meu crânio a ideia.
O inseto
friorento na lânguida ninfeia!
Ao
despertar festivo da alegre natureza,
Quero
colher as clícias que brincam na devesa:
Sentir
os raios ígneos da luz do sol de maio
Reanimar-me
a vida que foge n'um desmaio;
Pousar
um longo beijo nas rubras maravilhas
E
contemplar do céu as vaporosas ilhas.
E quando
o ardor latente que cresta a minha fronte
Ceder à
neve algente que touca o negro monte;
Quando a
etérea asa da brisa fugitiva
Trouxer-me
os castos trenos da terna patativa,
Elevarei
meus carmes ao Ser que criou tudo,
E
dormirei sorrindo n'um leito ignoto e mudo.
[ narcisa amália, nebulosas, 1872 ]
notas_
alfombra- tapete macio; certa extensão de relva
fauce - parte da garganta próximo à laringe; abertura
crestou - tostou; queimou
devesa - mata ou arvoredo
patativa - referência a uma ave ou a um poeta
treno - canto fúnenre carmes - cantos ou poemas
algente - gélido; muito frio
o texto apresenta uma angústia causada por uma "ilusão perdida" (v.5). a solução para essa dor ("fel do sofrimento") é a contemplação da obra do criador, ou seja, o universo do deus católico. é um desejo de comunhão com a natureza e, consequentemente, união com deus. de repente ajuda.
o desfecho marca este contraste entre martírios infernais e a busca de paz na hamonia com a natureza: no último verso o eu lírico sorri, talvez expondo o fim da vida finalmente em paz, ou seja, o último verso pode ser um eufemismo da morte. seria uma espécie de resignação diante de uma frustração. gente, como assim? precisa aceitar todas as dores sempre?ficou tudo bem, no fim?...
quem desdenha quer comprar, diz lá um ditado. mas é o romantismo.
* trecho de "o baile" -- em “últimos cantos", gonçalves dias
notas_
olores - cheiros
incausa - sem cuidado
inebria - embriaga
ledos - alegres
proscênio - parte do palco de um teatro
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"o baile", poema de narcisa amália, retrata uma festa luxuosa, com beleza e sedução, mas também permeado por atmosfera de desencanto.
a noite é descrita como mágica: perfumes, luzes e música, envolvendo os participantes em um êxtase quase hipnótico. contudo, por trás do esplendor, nota-se a presença da ilusão: flores murcham, vestes se mancham, a música se dissipa e a festa chega ao fim. a metáfora da mulher como mariposa é marcante: ela vê o brilho da festa e dos prazeres e se atira, mas é uma pira encandescente. deu ruim.
aqui, há contraste entre deslumbramento momentâneo e a realidade amarga da vida, marcada por erros, dor e desilusões. poema sugere que os momentos de alegria e paixão são passageiros e que a existência é um palco onde se encena uma farsa.