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sábado, 18 de outubro de 2025

adeus, meus sonhos

 

                         


     ADEUS, MEUS SONHOS  _  Álvares de Azevedo (1831-52)

   Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
   Não levo da existência uma saudade!
   E tanta vida que meu peito enchia
   Morreu na minha triste mocidade!

   Misérrimo! votei meus pobres dias
   À sina doida de um amor sem fruto...
   E minh’alma na treva agora dorme
   Como um olhar que a morte envolve em luto.
 
   Que me resta, meu Deus?!... morra comigo
   A estrela de meus cândidos amores,
   Já que não levo no meu peito morto
   Um punhado sequer de murchas flores!

      Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos, séc 19

     nota_
    pranteio - choro
    sina  -  destino; fado
    cândido - puro; ingênuo; torcedor do vasco

 . . . . . .  .  .  .  .   .   .

poeta diz que está morrendo porque seus sonhos se esfarelaram, não viraram realidade. houve desilusão amorosa: ele gastou seus dias em um "amor sem fruto", disse ele, no verso 6. como seus sonhos deram errado, ele decide se vingar: "morra comigo a estrela...",  ou seja, vai matar os sonhos que ficaram em sua cabeça. o problema é que ele vai junto. 

parece que só o que valia a pena, dentro do amor, era a perfeição, sem tristeza, sem melancolia. olhem, essa visão de que o amor que vale a pena  é só o amor romântico vem durando até hoje.  

quinta-feira, 21 de março de 2024

balancete - josé paulo paes - comentário

 


[ J P Paes - 1926-88 ]

      BALANCETE   
                                        José Paulo Paes 

   A esperança: flor
   seca mas (acaso
   ou precaução?) guardada
   entre as páginas de um livro.

   A incerteza: frio
   de faca cortando
   em porções cada vez menores
   a laranja dos dias.

   O amor: latejo
   de artéria entupida
   por onde o sangue se obstina
   em fluir.

   A morte: esquina
   ainda por virar
   quando já estava quase esquecido
   o gosto de virá-las.

          [in "prosas seguidas de odes mínimas", cia das letras]

balancete :  documento que mostra movimentações financeiras em um certo período, numa empresa; serve também para identificar prejuízo ou lucro

   . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .    .    .

numa gradação que indica fim de vida, "balancete" apresenta pequena lista de temas que são caros ao humano comum, como "esperança", "dúvida" (medo); "amor" e "morte".

aqui, cada tema é tratado de modo a expor o seu lado triste, estéril, num pessimismo digno de fim de século.
a flor entre páginas de livro dá falsa esperança de que ainda haveria vida por ali. agora, cortar laranjas em porções menores fornece ideia de um desespero, necessidade de guardar, de adiar o fim da fruta, adiar o fim da vida...
ao final, a morte seria esse virar de página, ou seja, uma passagem para outras esferas... interessante que, na primeira estrofe, a metáfora da esperança esteja num livro com flor seca dentro. ao final, nova metáfora envolvendo livro: virar página da vida. o fim.

   . . . . . . .  .  .  .  .  .   .   .

  saiba mais:


destaques

adeus, meus sonhos

                                 ADEUS, MEUS SONHOS  _  Álvares de Azevedo (1831-52)    Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!    Não levo...

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