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sábado, 12 de julho de 2025

a bunda - carlos drummond de andrade

 

[ vênus calipígea, séc II a.c ]

         A  BUNDA

   A bunda, que engraçada.
   Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

   Não lhe importa o que vai
   pela frente do corpo. A bunda basta-se.
   Existe algo mais? Talvez os seios.
  Ora — murmura a bunda — esses garotos
  ainda lhes falta muito que estudar.

  A bunda são duas luas gêmeas
  em rotundo meneio. Anda por si
  na cadência mimosa, no milagre
  de ser duas em uma, plenamente.
  A bunda se diverte
  por conta própria. E ama.
  Na cama agita-se. 

 Montanhas avolumam-se, descem.
 Ondas batendo

  numa praia infinita.

 Lá vai sorrindo a bunda. 

  Vai feliz
  na carícia de ser e balançar.
  Esferas harmoniosas sobre o caos.

  A bunda é a bunda,
  redunda.

      [ c. drummond de andrade, "amor natural", 1992 ]

  . . . . . .  .  .   .   .

drummond pediu que sua coletânea de poesias sensuais ou supostamente eróticas fossem publicadas depois de sua morte. e assim se fez. bunda sobre o caos. bunda montanha e sinuousa, a bunda não se desculpa. ela vai. 
aqui a bunda é alegre, do ponto de vista do outro. bunda -- com perdão da redundância -- é sonoro plenoasmo. é onomatopeia de desejo, talvez.

para uma bunda platônica é preciso outra bem próxima

bunda não precisa explicação

bunda é

pedido de bunda não se nega

bunda é exploração do olhar

bun

   . . . . . .  .  .   .   .


                
             [ "psiquê reanimada pelo beijo de amor", canova, 1787-93 ]

               
            [ "centauro enlaçando uma ninfa”, tobias sergel, 1778 ]
 
 
   
                            
                                             [ "dircè" - bertolini, séc 19 ]
                  

                                   
                           [ "mercurio e psiquê", adriaen de vries, 1593 ]


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