polifonia, discurso indireto livre, prosa poética, narrativa mais lenta que honda civic a álcool, "as meninas" é prosa às vezes verborrágica, revelando quatro moças em ebulição e necessitando encontrar seu próprio espaço. sim, eu disse quatro.
ele é o autor deste verso que está na canção "pedaço de mim" a canção é de 1978, para o show "ópera do malandro"
veja:
Oh, pedaço de mim Oh, metade afastada de mim Leva o teu olhar Que a saudade é o pior tormento É pior do que o esquecimento É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim Oh, metade exilada de mim Leva os teus sinais Que a saudade dói como um barco Que aos poucos descreve um arco E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim Oh, metade arrancada de mim Leva o vulto teu Que a saudade é o revés de um parto A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu (...)
no poema "evocação de recife", do
pernambucano manuel bandeira, lemos que uma das preocupações do poeta é com a
possível mudança no nome de uma rua, como a do "sol" para,
possivelmente, "dr. fulano de tal". uma das ruas mais movimentadas da
cidade de são paulo (e talvez a maior, em extensão), chama-se "alcântara
machado", apenas conhecida pelo apelido : radial leste. alcântara, para
quem não sabe, foi contemporâneo de bandeira, lá pelos anos 1920 e 1930, escreveu, dentre outros, "brás, bexiga e barra funda",
crônicas divertidas que ele mesmo quis chamar de "notícias", cujo
tema é a imigração italiana. dar nome a ruas, avenidas ou praças não é tarefa
difícil. gente importante não falta. o estádio do são paulo futebol clube é o "cícero",
mas todo mundo conhece por morumbi. ou, hoje, com nome de chocolatinho. o maracanã, no rio maravilha, tem nome :
mário filho (irmão de nélson rodrigues), por acaso, escritor também, como
alcântara. engraçado, nome de estádio batizado no meio literário. futebol e
poesia sempre deram samba. sócrates (1954-2011), destaque do corínthians e da
seleção brasileira, não tem homanagem marcante em ribeirão preto, no
estádio em que se projetou, o "santa cruz", que é do botafogo. por
outro lado, médico por formação, não seria de todo mal que alguma rua se chamasse não "dr.
fulano de tal", mas dr. sócrates.
A bunda, que engraçada. Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se. Existe algo mais? Talvez os seios. Ora — murmura a bunda — esses garotos ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio. Anda por si na cadência mimosa, no milagre de ser duas em uma, plenamente. A bunda se diverte por conta própria. E ama. Na cama agita-se.
Montanhas avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda.
Vai feliz na carícia de ser e balançar. Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda, redunda.
[ c. drummond de andrade, "amor natural", 1992 ]
. . . . . . . . . .
drummond pediu que sua coletânea de poesias sensuais ou supostamente eróticas fossem publicadas depois de sua morte. e assim se fez. bunda sobre o caos. bunda montanha e sinuousa, a bunda não se desculpa. ela vai. aqui a bunda é alegre, do ponto de vista do outro. bunda -- com perdão da redundância -- é sonoro plenoasmo. é onomatopeia de desejo, talvez.
para uma bunda platônica é preciso outra bem próxima
bunda não precisa explicação
bunda é
pedido de bunda não se nega
bunda é exploração do olhar
bun
. . . . . . . . . .
[ "psiquê reanimada pelo beijo de amor", canova, 1787-93 ]
[ "centauro enlaçando uma ninfa”, tobias sergel, 1778 ]
"Duas entidades que transcendem à humanidade do amar e ditam linha por aqui.
Teresa D’Ávila e Moema.
As duas são do século 16. Eis a questão. Elas gozaram e sofreram – não nessa ordem – do desejo e da angústia que prazeres totais causam. Sofreram porque não usaram da razão? Ou não usaram da razão porque sofreram?
Precisa ser só racional para o grande encontro com os anéis de Saturno?
Perguntas demais.
Moema é tupinambá, figura trágica e afrodisíaca, moradora do livro “Caramuru”, do frei Santa Rita Durão (1722-84). Teresa y Ahumada (1515-81), nasceu em Ávila, daí o apelido telúrico: D’Ávila. A moça viveu ondas transcendentes de amor em forma de raios e dores, chegou a descrever em livro a coisa. Enclausurou-se mas para libertar-se. O artista Bernini que o diga. Enfim.
Teresa mora aqui, porque ela também confirma nossa ideia sobre existir o amor no movimento para. Amor é o que flui.
Olhem, a uva não é o vinho. Ele surge quando a gente pisa. Qualquer pessoa vai sofrer se tentar fazer vinho pisando nelas sozinho. Precisa mais de um. Não tenho metáfora melhor, vai essa mesmo. Pisar as uvas. (...)"
hoje, 2025, são milhares de seres humanos que usam inteligência artificial para conversas aleatórias e distração. essas milhares de pessoas chamam isso de terapia. não é. muita gente para na frente da tela e digita partes de sua vida e busca interação com o que chamam "inteligência". só que não.
os modelos de linguagem digital são alimentados por gente que cria e reforça dilemas psíquicos. ou seja, as inteligências artificiais usadas para cuidados com saúde mental são um erro profundo. é tratar doença com o aquilo que causa a doença. pedro paulo bicalho, do conselho federal de psicologia já alertou para a questão. é grave. essa história de suposta trapia com inteligência artificial é o que se chama de brian rot, hoje em dia. ou seja, a podridão mental causada pelo consumo excessivo de conteúdos digitais. a situação é bizarra, pois parte do conjunto de coisas que detonam saúde mental de pessoas é usada como terapia! não dá! o poste mijou no cachorro!
a cultura da conversa on line e a chance de interagir com essa plataforma (i.a.) 24h por dia, 7 dias por semana, encobre o que um terapeuta humano pode fazer pelo analisado. é estupidamente tentador. mas é estúpido. e muito grave.
no livro "felicidade", gianetti expõe que no século 18, o período iluminista apresentava uma equação que pressupunha uma harmonia entre a busca da felicidade e o progresso da civilização.
não é de hoje que se tem como senso comum que mais conforto material pode gerar melhoria nas ansiedades e até mais longevidade. o romance "a cidade e as serras" (séc 19) do eça de queiroz, vai na mesma linha, quando resume a felicidade ao grau de civilidade de uma pessoa. no final do livro, a teoria é mudada, mas fica o registro de um senso comum à época de eça: civilização é tudo. hoje, por onde houver um estudante de classe média fazendo vestibular, país afora, saberemos que a busca é por um curso que "dê dinheiro". nenhum curso dá dinheiro, a gente sabe, mas essa ideia é a cenoura na frente do cavalo. é a busca de felicidade que despreza o lado humano da coisa. e o que nasce primeiro : a busca de felicidade ou a do dinheiro ?
filmes feitos por inteligência artificial vão decretando o fim do vídeo como recurso argumentativo para expor realidade. adeus documentários; adeus jornalismo investigativo ou mesmo para publicidade... tudo pode ser revertido, desdito e recriado ao gosto do freguês.
perigoso e cruel, esse recurso -- a (suposta) inteligência artificial -- cria multiversos com raro detalhe e, no visual, comparam-se a uma realidade, de fato. são figuras mitológicas conversando, animais cometendo toda sorte de sandice humana, pessoas famosas falando besteira e por aí vai. por isso, escola!
então, hitler não se rendeu e morou na argentina? joão paulo segundo não sofreu atentado e atirou em si mesmo? palestinos estão recusando ajuda humanitária? presidente geisel era de esquerda? ... todas as mentiras que escrevi neste parágrafo podem se tornar imagens límpidas e, claro, dar munição a insensatos.
por isso, escola. educar. aprender. conviver. argumentar. acolher e exercitar cidadania. deve haver mais verbos, mas por hoje chega.
perguntas de conhecimentos gerais com quatro (4) alternativas em que se buscou um nível de dificuldade próximo a quem estuda no ensino fundamental 2, algo entre o 6o. e o 9o. ano.
por quê ?
nesse período da vida escolar, fundamentam-se alguns valores importantes, como a preservação da natureza, a importância da arte e a vida em sociedade.
como funciona o jogo ?
numa página do livro, aparecem a pergunta e as alternativas. é preciso descobrir qual delas é a única que responde à pergunta feita. quem tem o livro em mãos pergunta para uma ou mais pessoas, de preferência jovens. pode-se estabelecer um tempo para responder ou até alguma pontuação para o acerto. na página seguinte está a resposta, acrescida de uma curiosidade e, por vezes, uma proposta de pesquisa.
. . . . . . . . . .
veja um exemplo do livro:
Ave facilmente reconhecida pelo canto e parece
dizer seu nome quando vocaliza. Ela apresenta faixa branca sobre os olhos. Quem
é?
a) sabiá
b) bem-te-vi
c) rolinha
d) pica-pau
. . . . . . . . . .
[ na página seguinte do livro ]
Resposta: b) bem-te-vi
Curiosidade:
O bem-te-vi é muito comum em áreas urbanas e rurais do Brasil. Ele recebe
esse nome por conta do seu canto, que soa como “bem-te-vi”. Além de seu canto
marcante, tem uma faixa branca característica na cabeça e o peito amarelo
vibrante.
Desafio !
Você consegue visualizar, em um dia,
mais de cinco espécies diferentes de aves? Quais as aves típicas que vivem em sua cidade ou bairro?
Podemos fazer um competição, em um
parque, na praça ou mesmo no quarteirão onde mora : quem consegue ver o maior
número de pássaros em menor tempo!
caminho de pedras - romance, 1937 rachel de queiroz (1910 fortaleza - 2003 rio de janeiro)
na década de 1930 ligou-se ao partido comunista. a ideia era combater o varguismo e suas posturas antidemocráticas. foi presa. teve livros queimados em praça pública, assim como jorge amado, na mesma década. na cadeia, escreve "caminho de pedras".
sempre é bom lembrar que rachel -- apesar desse enfrentamento à era vargas -- apoiou o golpe militar de 1964 e deixa isso claro em algumas entrevistas, incluindo o famoso "roda viva", tv cultura, em que discute com caio fernando abreu a esse respeito.
voltando ao "caminho de pedras". o enredo: fortaleza. roberto está de volta à cidade, dez anos depois. enquanto espera alguém, em um café, olha para a rua tentando reconhecer a cidade de antes de sua partida.
Roberto sentou-se melancolicamente à banca do café. O balanço do mar ainda Ihe ecoava doloroso na à cabeça. Esperava alguém. O sol queimava nas calçadas, (...) A pequena que servia os sorvetes, detrás do balcão de zinco, suava, e o batom empastado dos lábios derretia-se manchando-lhe os dentes. Roberto procurava reconhecer na cidade, no povo, nas mulheres, a sua velha Fortaleza de há dez anos. Mas o que via era novo, diverso, ninguém o reconhecia, nem ele reconhecia nada.
um operário se aproxima e conversa com roberto. não diz seu nome. roberto diz que buscará trabalho em algum jornal da cidade. o operário afirma que irá apresentá-lo ao grupo, à noite. o plano todo era implantar uma célula comunista na cidade e roberto faria parte disso. em fortaleza, já havia o "bloco", também de teor comunista.
no início do capítulo 6, por exemplo, preto vinte-e-um passa por roberto e faz questão e não cumprimentá-lo, pois um é proletário e o outro intelectual. havia uma combinação entre eles cuja orientação era não se reconheceram, na rua, operários e intelectuais. neste cap 6, samuel (judeu), filipe, paulino e nascimento (revisor do jornal "gazeta") estão numa praça conversando sobre a chance de conseguir mais mulheres fazendo uma revolução social. nascimento diz que é um direito ter boas mulheres -- como a que viram num cartaz de cinema. o que se tem, nesta cena, é a noção de que mulheres bonitas são para ricos, os da elite. e, para os pobres, nada. logo, o movimento social poderia servir para que eles -- os comunistas -- fossem vistos como pessoas interessantes, pelas mulheres, uma vez que estariam no poder. nascimento reclama que enquanto mulheres estão na rua, buscando homens, ele não é reconhecido e acaba mesmo é indo em grupo de homens para reuniões políticas.
Repetiam
toda hora os “camaradas”, afetavam uma simplicidade excessiva, que chocava os
outros, os “de tamancos”, cheios de preconceitos e convenções. Pois a
simplicidade, longe de ser um atributo dos humildes, é um artifício de
requintados que a plebe desconhece. Depressa essa diferença cavou divergências.
Os “tamancos” entraram a hostilizar os “gravatas”, a “desmascará-los”, a exigir
que se proletarizassem. O preto Vinte-e-Um chefiava a “esquerda”, e os
“gravatas” se fechavam num círculo aristocrático, que chegava a incluir o
próprio Filipe, expulso do meio dos obreiros por “intelectual” e por “burguês”.
roberto conhece noemi, o marido joão jaques e o filho guri. com o menino, roberto é amável e até brinca com ele. apesar de roberto ser um destaque, a personagem importante, aqui, é noemi. ela é ativa na política, quer aprender, conhecer mais a realidade e conta com apoio de roberto, mas não do marido.
após conversas com roberto e a própria esposa noemi, joão jaques parte para o rio de janeiro, deixa a família. roberto encontra uma pequena casa, continua trabalhando para a organização. noemi, que há quatro anos trabalhava no estúdio "fotografia", acaba sendo demitida pelo patrão benevides, culpa das censuras dos clientes, ante a vida que noemi escolheu: viver com outro homem. noemi nasceu no acre, é filha do terceiro casamento da mãe. o cerco aos comunistas aumenta. roberto diz a filipe que ele precisa ir embora, pois poderia ser preso. a própria organização convence filipe a partir para russas -- uma cidade do ceará. uma crise de saúde tirou a vida do menino guri. o desespero toma conta de noemi. ela e roberto, numa noite de sábado, enquanto entregavam folhetos, foram presos . ela, solta dois dias depois, uma vez que estava grávida. roberto foi levado para o sul.
ao final, noemi consegue um emprego em uma casa de roupas.
“Pisou em falso numa pedra
solta. Arrimou-se a um muro. (...) Noemi sorriu com a mão no ventre dolorido: -- Mais devagar, companheiro! E voltou a subir a ladeira áspera, devagarinho” [ fim ]
há livros que me chamam
atenção pela capa, e este é assim : uma menina, de vermelho, sentada na cama,
entristecida, diante de uma gaiola com um passarinho igualmente entristecido e
vermelho.
historinha simples, chamada "greve de vida", de amelie couture . a garotinha é lucie,
de oito anos, está morando com o pai há pouco tempo, desde que sua avó
falecera. era esta que cuidava da menina e a educava com carinho. entristecida, ela precisa aprender a conviver com a nova esposa do pai e seu
pequeno bebê, luca.
nada a faz sentir-se feliz, daí resolve não mais sair do
quarto. faz isso por semanas seguidas, é quase assustador, tendo apenas a
companhia de um passarinho em sua gaiola. mas o leitor experiente logo detecta
a ponte para o desfecho possível. e não não vou contar aqui porque
seria bobagem.
mesmo que você já tenha passado a adolescência, vai se entreter
com a novelinha e as ilustrações do marc boutavant. boa leitura.
já fui um quadro empoeirado, esquecido na parede rachada de um casarão mofado. se bem que não era exatamente um casarão, porque não havia capelinha no quintal, nem piano dentro da sala. era só um terreno grande, piso de tijolo, coberto de telhas marrons. muita gente morou ali. gerações de plantadores de cana, pescadores, donos de supermercado, um casal de encantadores de serpente aposentados, um youtuber com depressão e duas bailarinas cegas. todos entraram, saíram, mas eu fiquei. quadro. parede, preguinho, pó. fiquei.
ninguém sabia quem me pintara nem o que exatamente eu retratava porque, aliás, mudava o tempo todo. pela manhã, aparecia um rosto deformado; à tarde, um campo florido; à noite, um bicho esquisito querendo sair de dentro da tela, como se o óleo ainda estivesse fresco. a moldura era circular o que facilitava a crença em supostas mudanças na imagem. diziam que quem passava tempo demais olhando para mim começava a ouvir sussurros, ou, pior, enxergar partes de si mesmo no quadro. era nojento. houve quem jurou que a pintura era, na verdade, uma janela para outro lugar – daí ponderei que poderia ficar parecido com aquele livro do lewis carroll, da menina que cresce e diminui de tamanho, então, achei melhor endurecer feito um afresco. dito e feito: quem punha a mão pra saber se era mesmo passagem pra outra dimensão, errava, porque não dava pra atravessar. tentaram, mas não conseguiram. jogavam papel amassado, tampa de garrafa. até cuspe. com o tempo, cansaram, fui ficando esquecido, as traças me visitando. o que eu tinha, era isso: traças e um ou outro pesadelo de sabiá que entrava pela fresta da porta encarquilhada. até que um dia, uma senhora de chapéu lilás entrou pela casa. dava pra ler seus pensamentos, porque, como sabem, sou arte. e o que havia? aquela senhora reconheceu o lugar onde algum antepassado teria vivido parte da infãncia, décadas e décadas antes. estava absorta e querendo recuperar alguma coisa que não vinha. resolveu limpar a parede, achando que eu parte do que havia ali era sujeira. a sujeira era eu. passou pano seco, reclamou da poeira, e bem ali, quando esfregou no canto, ouviu um estalo. rachaduras. parede, chão porta. trincas iam nascendo. teimosa, ela não correu. pegou uma lupa da bolsa e ficou encarando meu centro, onde se formava uma espiral esquisita, meio verde, meio preta, como um buraco sem fundo. o tremor havia cessado e ela, ainda de chapéu lilás, continuava sua expedição sobre meus traços e talvez até cores. riu baixinho, mexendo os beiços: “que merda é essa?”
depois disso, a parede inteira começou a transpirar, como se estivesse com febre. e eu? me desfiz, escorri feito tinta fresca, me espalhei pelo chão até virar uma poça oleosa, cores difusas. antes de desaparecer, deixei só um detalhe pra trás: a pequena assinatura no rodapé, algo meio torto, que dizia "arte viva"
em "vestido de noiva" (n. rodrigues), a personagem alaíde
sofre alucinações em cama de hospital, vê figuras do passado, revive
realidades. a criatura de "frankenstein" (shelley) com
certeza deve ter sofrido um tanto, logo após abrir os olhos amarelos, na alemanha. há outros aqui, na estante, sofrendo do mesmo mal, como naziazeno
(os ratos), luís (angústia), quixote (d quixote), mersault (o estrangeiro), sidonio rosa (venenos de deus, remédios do diabo) ou mesmo capitão celestino (a visão das plantas).
a depressão é a primeira curva na estrada das alucinações. da depressão vai-se para crise de ansiedade num pulo. às vezes ela passa logo. crise de ansiedade é fogo. pouca gente acolhe, já adianto. é preciso ser bem transparente com quem está à volta. é preciso um psiquiatra. é preciso controlar respiração e contar com a sorte para ser acolhido por quem está fisicamente perto, num primeiro momento de crise. a médio prazo, terapia ajuda muito. terapia não cura, mas ajuda a lidar com essa lama toda que é nosso exílio dentro da busca por identidade e acolhimento. no caso da depressão, é preciso parar de acreditar em empatia. isso é conversa de literatura. papo de publicidade pra vender apartamento ou aplicativo de banco. são pouquíssimos os que acolhem. e por que pouca gente acolhe? porque, nesse mundo urbano em que tempo é dinheiro, pessoas estão preocupadas consigo mesmas. no máximo surgem no mesmo espaço físico, comem, bebem, mas não olham no olho querendo saber como estamos, de verdade. não recrimino. é só constatação. enfim, por isso, a causa de muitas angústias, depressões e afins é a solidão no meio das gentes que correm e vivem enterradas em suas próprias gavetas ou no aparelho celular. pessoas olham para seu próprio umbigo e, muitas das vezes, são educadas a serem assim como forma de se defender de possíveis dores. daí que, quando crescem, continuam olhando para si mesmas enquanto o próximo definha.
elísio - referência a lugar mitológico de paz e felicidade
empós - após; depois
leda - alegre
ínvios - caminhos árduos; difíceis
rociada - orvalhada
plangente - o que lastima; entristece
juncam - cobrem de folhas ou juncos [ certo tipo de planta ]
turba - multidão; desordem
agros abrolhos - lugares com espinhos
. . . . . . . . . . . .
em noites silenciosas, cheias de perfume, o eu lírico se lembra com carinho da juventude, quando a vida parecia leve, cheia de flores, e ela era feliz, correndo atrás de borboletas acreditando que o mundo seria melhor um dia, como nas letras do grupo cranberries. contudo, no presente, existe dor. mesmo assim, ela aceita esse sofrimento, porque é a poesia que dá sentido à sua vida. através dela, ela se sente elevada a outros mundos, cheios de beleza, natureza e imaginação. por isso, ela valoriza até mesmo a dor, pois se afasta das confusões do mundo (da turba que segue caminhos errados) e se aproxima da arte, que a faz enxergar tudo de forma mais clara, incluindo poder rever o passado.
o conjunto de mármore e bronze "êxtase de santa tereza" (bernini, séc 17), dá conta de
um estado marcante de contraste, no estilo barroco. um jovem risonho como um escobar machadiano, segura uma seta fálica bem acima da figura feminina,
envolta em panos teocêntricos. ela parece mesmo em êxtase. está na igreja santa maria da vitória, roma.
"estou-me a vir", como dizem as portuguesas, seria bom nome para essa obra escandalosa aos valores do século 17.
o jovem, apesar das asas cristãs, bem lembra cupido, filho de vênus, figura tão cara aos amantes universais. tereza é dita "santa". viveu no século 16 e registrou em texto seus encontros intensos e divinos com jesus -- ou similar. é o "libro de la vida". pesquisa e crê.
[ êxtase de sta tereza, séc 17 ]
[ página do romance "letra líquida" - c h carneiro ]