destruição - carlos drummond
[ beatriz milhazes ] DESTRUIÇÃO Os amantes se amam cruelmente e com se amarem tanto não se veem. Um se beija no outro, refletido. Dois amantes que são? Dois inimigos. Amantes são meninos estragados pelo mimo de amar: e não percebem quanto se pulverizam no enlaçar-se, e como o que era mundo volve a nada. Nada, ninguém. Amor, puro fantasma que os passeia de leve, assim a cobra se imprime na lembrança de seu trilho. E eles quedam mordidos para sempre. Deixaram de existir, mas o existido continua a doer eternamente. . . . . . . . . . . soneto de versos brancos, ou seja, não têm esquema de rima regular. aqui, o caráter lírico parece querer expor sua face melosa, mas não acontece. não é do estilo do poeta mineiro a plenitude da subjetividade. ainda bem. os termos ligados ao amor, aqui, chamam atenção: cobra, fantasma, inimigo...