esses últimos vinte dias de junho foram movimentados demais. um misto de ressaca do mar e queda de meteorito. sentia que havia uma rave de babuínos dentro do peito. não vou entrar em detalhes, há mais vida lá fora e parece que vou melhorar. mas aprendi que em meio a ansiedades e frustrações o que resta é viver um dia por vez. dificílimo pra mim, porém cérebro é pra usar.
tento beber e fumar menos, isso é fato. vou a médicos, tomo comprimido. existe a terapia. existe a movimentação física. existe o trabalho. existem pessoas em volta, ainda preciso acreditar em alguém...
ansiedade, um dia ela vai embora. e você, que nem ansioso é, garanto que leu "fase", no título dessa croniqueta. frase boa é só uma fase mesmo.
segunda-feira, 27 de junho de 2022
minha ansiedade é uma frase passageira
quinta-feira, 23 de junho de 2022
pais idosos vão para casa de repouso, em ribeirão preto
2022: de 09 a 18 de junho, praticamente dez dias, estive em ribeirão preto, apartamento de pais idosos, ambos próximos dos 90 anos.
minha mãe caiu, em abril, dentro de casa, quebrou fêmur.
precisa acompanhamento o tempo todo; a memória falhando muito. meu pai já não tem o vigor de antes, memória vai enfraquecendo...
eu e irmão decidimos, nesses dez dias, que os pais iriam para uma casa de repouso, lá em ribeirão preto mesmo. e assim se fez. é
lugar com enfermeiras tempo todo e médico regularmente. fora outras pessoas para conversar e atividades físicas (musicoterapia, educação física, jogos de escrita, memória etc).
o nó é a sensação que fica de desmembramento das rotinas de todos: eu, irmão e pais. cada um com sua ansiedade. cada um com seu touro selvagem dentro do peito. mas tenho ouvido de gente próxima que o que foi feito foi o melhor, o mais acolhedor etc etc. na casa de repouso os dois estão cercados de cuidados. é brisa que traz algum conforto. e estou procurando atividade física mais regular, para mim mesmo, como frequentar -- mesmo que irregularmente -- o pequeno espaço de academia aqui do prédio onde moro... deve ajudar.
recebi energia de família, amigos, amigas, meus alunos, alunas, colegas de escola, figuras mais e menos distantes, isso anima e me berça. essas energias continuam me acolhendo. o muito obrigado, aqui, é o mínimo.
terça-feira, 21 de junho de 2022
cordas de aço - cartola - comentário
CORDAS DE AÇO
Cartola [1908 - 80]
Ah, essas cordas de
aço
Este minúsculo braço
Do violão que os dedos meus acariciam
Ah, este bojo perfeito
Que trago junto ao meu peito
Só você violão
Compreende porque perdi toda alegria
E no entanto meu pinho
Pode crer, eu adivinho
Aquela mulher
Até hoje está nos esperando
Solte o teu som da madeira
Eu você e a companheira
Na madrugada iremos pra casa
Cantando
* pinho: violão (madeira usada para o instrumento)
. . . . . . . . . . . . . . . .
terça-feira, 14 de junho de 2022
o poder e a glória da edição: cortar é uma arte?
não consigo trabalhar sem um plano. aula; uma viagem; horários de chegada em determinado lugar... etc... embora, para algumas ações, só o primeiro ímpeto já vale o início de determinada tarefa, como, por exemplo, gravar vídeos para o canal do youtube. eles chegam ao espectador recheados de cortes, alguns suaves, imperceptíveis, outros abruptos e quase risíveis. algumas vezes refaço a gravação, mas na maioria delas, deixo como está, porque não quero o grammy latino, o troféu de edição, mas transmitir alguma coisa útil: literatura. e um pouco do meu jeito único de destroçar vídeos.
por que escrevo isso?
não sei.
. . . . . . . . . . .
este do nelson é um dos mais retalhados
[ nos comentários tem uma crítica construtiva, aliás ]
quarta-feira, 8 de junho de 2022
as rosas não falam - cartola - comentário
AS ROSAS NÃO FALAM
Cartola [1908 - 80]
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Que bobagem as rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
. . . . . . . . . .
. . . .
saudade é o tema deste samba de cartola. qual a queixa do poeta? resposta: desilusão amorosa. o eu lírico divide com as rosas a tristeza que sente pela ausência da pessoa amada. o coração dá o tom -- vermelho -- à sensação, ou seja, ele vê, na rosa, o seu coração ferido e tenta falar com a pessoa amada, mas é inútil. as rosas -- cor avermelhada -- acentuam o estado emotivo do poeta que sonha com a volta de seu amor. para compensar a solidão e a tristeza, as rosas exalam o perfume que lembra a pessoa querida. ao final, a voz poética deixa recado a ela, pedindo que venha vê-lo outra vez para, de repente, sonhar com ele.
agenor de oliveira, nascido em cantagalo, rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, em 1980. torcedor do fluminense. um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira. o apelido "cartola" veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.
terça-feira, 31 de maio de 2022
o mundo é um moinho - cartola - comentário
O MUNDO É UM MOINHO
Cartola [1908 - 80]
Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Presta atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor, tu herdarás só o cinismo
Quando notares, estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés
. . . . . . .
. . .
. . .
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neste samba "o mundo é um moinho", eu lírico fala com sua amada que está indo embora, para decepção dele.
ele procura dissuadi-la da ação de abandoná-lo, dizendo que o mundo é moinho e
vai triturar os seus sonhos. ameaça a mulher amada afirmando que ela não será
mais o que é, caso saia tão cedo da casa e também da relação. o “ainda é cedo,
amor”, do início, é trocado por “preste atenção, querida”, depois, ao final, é
apenas “tu”, em um tom severo, cínico, diminuindo a intimidade e buscando -- pelo medo; pela persuasão -- mudar o rumo da vida
da mulher. ao que parece, não conseguiu.
agenor de oliveira, nascido em cantagalo, rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, em 1980. torcedor fluminense, foi um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira. o apelido "cartola" veio do tempo em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.
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saiba mais :
sexta-feira, 27 de maio de 2022
newton e sua maçã - lista de eventos do livro
"newton e sua maçã", livro de poskitt, ed cia das letras, é divertido e espalha as ideias do cientista inglês com alguma facilidade.
* questões familiares, na primeira infância, deixam isaac newton um tanto amuado, recolhido
* morou, na juventude, na casa do boticário clark
* aos dez anos, newton vê sua mãe retornar à casa
* governo de cromwell -- muito conservador, puritano
* aos doze anos foi para escola de gramática do rei eduardo 6
TEMAS PARA ESTUDAR
- como foi a relação dos estudos matemáticos de newton e a religião?
- pela leitura, pode-se perceber que isaac não alcançou explicações sobre gravitação, cores, tangentes e afins absolutamente sozinho... logo, o que basicamente é necessário para que surja um cientista, hoje?
- por que a figura de cientistas como newton, einstein, stephen hawking ou galileu são mostradas como excêntricas, inalcançáveis ou mesmo antissociais?
sexta-feira, 20 de maio de 2022
cartola pra cabeça e livro: a busca de salvação
quando estava perto de terminar "abolição via vargas" (romance), achei um texto para epígrafe:
"ouça-me bem, amor / preste atenção, o mundo é um moinho"
é cartola, poeta e músico do século 20.
o livro saiu em dezembro de 2021 -- saiba mais no vídeo abaixo.
de lá pra cá, muita coisa se deu: tento deixar a depressão no controle, às vezes dá certo, mas na maioria das horas em que estou acordado, não. também existe o medo ainda desse coronavírus 19. por outro lado, houve matéria na tv-campinas (eptv) sobre o romance -- foi um reconhecimento e tanto...
enfim, a aposentadoria tão esperada veio, mas ainda sinto que remo com a colher, sobre uma prancha, em plena areia da praia, tentando evitar a próxima ressaca do oceano. quase tudo dói. dentes, pés, cabeça, o peito, o ciático... não tudo de uma vez, mas aos poucos, feito garoa intermitente. mais antigamente, eu acreditava piamente nas pessoas. hoje, sinto que são universos paralelos e que estou mesmo por minha conta. dói. cansa. já escrevi, aqui, que ninguém vai viver nossa dor. é cruel constatar -- na pele -- isso. acabo seguindo a vida por inércia. porque é o que sempre fiz: respirar, comer e achar que literatura vai me sustentar. tem dado certo, porque estou perto dos 37 anos de carreira, em escolas, num trajeto ininterrupto. e isso ainda não me cansou, juro.
sábado, 14 de maio de 2022
abolição via vargas desvenda trama com santos dumont e florence
"abolição via vargas" tem como cenário a rua direita, em campinas.
clique e compre agora!
saiba mais sobre o livro :
terça-feira, 10 de maio de 2022
beethoven do barulho
[ beethoven 1770-1827 ]
meus alunos
das segundas séries, ensino médio, têm tarefa auditiva, neste bimeste: ouvir beethoven e arriscar conhecer apelo "romântico" na sinfonia
mais famosa do alemão.
apresentada pela primeira vez, em 1824, austria, a sinfonia n.9, de ludwig van beethoven, corre o planeta pois marca um
apelo à harmonia do gosto popular, para época, e vai durando até agora. muita
gente se refere à obra simplesmente como a “nona”. som retumbante, passagens em
modo “piano” e “alegro ma non troppo” dão ao ouvinte a sensação de aventura e
algum dinamismo.a passagem mais conhecida está no quarto movimento. a sinfonia também é conhecida como “coral”. apesar do quarto movimento ser
o mais famoso, o segundo dá o caráter tenso da obra, com velocidade,
cordas, sopro e percussão.prevalece um certo tumulto de tom aventureiro e heróico, durante a obra, uma
necessidade de mostrar a grandiosidade do ser humano, vivendo em sociedade e
buscando a elevação divina. sobra o sonho de um mundo com as pessoas unidas. hoje isso é clichê. na época, era romantismo.na parte final, o tom agudo do coro marca a necessidade de ascensão, homens,
amigos, unidos junto ao criador.imerso na surdez, a obra é a última do compositor que ficou praticamente todo o
ano de 1823 ocupado em sua construção. uma espécie de síntese de obras
clássicas passadas, a “nona” remete o ouvinte também a um futuro talvez
grandioso, como se percebe pela união do poema de schiller aos acordes de beethoven.
sexta-feira, 6 de maio de 2022
ismália e a loucura de nós todos
"Olhei no espelho, Ícaro me encarou
Cuidado, não voa tão perto do Sol
Eles num guenta te ver livre, imagina te ver rei
O abutre quer te ver de algema pra dizer: Ó, num falei?!
No fim das conta é tudo Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ismália, Ismália"
se você que me lê é educador, educadora, conheça a letra de emicida, renan e nave. álbum: "amarelo". confere.
falei um pouco sobre o documentário "amarElo", clica:
terça-feira, 3 de maio de 2022
escola precisa olhar mais para a rua
numa certa altura do sermão da sexagésima, pe. vieira ilumina :
"se o lavrador semeara primeiro trigo, e sobre o trigo semeara centeio, e
sobre o centeio semeara milho grosso e miúdo, e sobre o milho semeara cevada,
que havia de nascer? uma mata brava, uma confusão verde".
é o século 17, só pra constar.
quando há muito discurso diferente sobre educar, dentro da instituição, só nasce mata brava. confusão.
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para usar na escola :
quinta-feira, 28 de abril de 2022
descreve a ilha de itaparica com sua aprazível feritilidade - gregório de matos
DESCREVE A ILHA DE ITAPARICA COM SUA APRAZÍVEL FERTILIDADE, LOUVA DE CAMINHO O CAPITÃO LUÍS CARNEIRO,HOMEM HONRADO E LIBERAL, EM CUJA CASA SE HOSPEDOU
Ilha de Itaparica, alvas areias, Alegres praias, frescas, deleitosas, Ricos polvos, lagostas deliciosas, Farta de Putas, rica de baleias. As Putas, tais ou quais, não são más preias, Pícaras, ledas, brandas, carinhosas, Para o jantar as carnes saborosas, O pescado excelente para as ceias. O melão de ouro, a fresca melancia, Que vem no tempo, em que aos mortais abrasa O sol inquisidor de tanto oiteiro. A costa, que o imita na ardentia, E sobretudo a rica e nobre casa Do nosso Capitão Luís Carneiro.
Gregório de Matos - séc 17 - Poemas escolhidos, Cultrix
notas -- "pícaras" - ardilosas, astutas
"preias" - presas
"ardentia" - calor intenso
"oiteiro" - pequeno morro com vegetação
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poeta lista as características aprazíveis da praia de itaparica e, nela estão elementos de culinária, assim como pessoas. tratamento dado às mulheres é o pior possível. no século 17 era aceitável. na descrição dos prazeres, o termo "carnes", na segunda estrofe, ganha conotação dúbia: pode ser o pescado, pode ser gente. nessa linha, "melão" e "melancia" tornam-se metáforas de de partes do corpo das mulhres. tudo isso torna a úlitma estrofe bem sarcástica, uma vez que o dono dessa farra toda é o "nobre" e "nosso" capitão luís.
sexta-feira, 22 de abril de 2022
depressão é um tipo de fracasso
terapia, acupuntura, abraço na árvore, óleos essenciais, poesia de manoel de barros, café descafeinado, massagem, poemas de fernando pessoa, gol da ponte preta, estar com quem se ama, emagrecer pra entrar nas roupas, meu tempero para carnes, muita coisa fiz. muita coisa legal, mesmo. mas a solidão... a sensação de solidão ainda é o polvo de mil tentáculos. mil ou cem mil. pra quem tem depressão, qualquer avanço, qualquer momento sem ansiedade é uma nova galáxia. qualquer momento em que algo faça sentido é a saída do inferno. pra quem não tem depressão, os avanços do outro são sempre uma tentativa, um passo, um "continue assim" ou "não esqueça os remédios!"
a terapia tem sido a parte boa, confesso. culpada pelo nascimento de "abolição via vargas" (veja o vídeo no final), as sessões me dão condição de ver as desgraças da gente organizadas. permitem que se manuseie a merda feita, as agruras do passado, dá até pra dar nome aos crimes. algo como aquelas luvas de usar na cozinha, pra pegar assadeira. a gente consegue, nas sessões, a longo prazo, mexer em tudo quase sem perigo. se ficar muito tempo segurando queima.
oscilações de humor geralmente irritam quem está perto. eu sei.
mas um dia chego. um dia. ou noite.
sábado, 16 de abril de 2022
emília é a mais famosa das mulheres daqui
arrisco dizer que emília (boneca de pano de saco) era
mais famosa que iracema, bem mais famosa que capitu ou qualquer outra, desde carmen miranda, rita lee, gisele, elza ou anitta...
na literatura brasileira, lindoia ("uraguay") e marília (aquela mesma, de ouro preto) despontam como musas, mulheres feitas para adoração, contemplação... mas a vida melhora
com rita baiana (do "cortiço"), depois capitu e a recosturada emília
é cereja no bolo da desfaçatez e diversão. uma cria de "frankenstein"
-- à moda tupiniquim --, a boneca tem como trunfo a pílula falante. podia ter a
calante, mas isso é outra história.
há mais mulheres na minha estante, vejo daqui... luísa (primo basílio) -- que
é sem sal, mas deixa a gente curioso; ci ("macunaíma"), helena ("três mulheres..."), paulo emílio); rami ("niketche"); farida ("terra sonâmbula") ou mesmo aquela de "a maçã no escuro"
(clarice). onde quero chegar ? não sei. mulher é mistério.
segunda-feira, 11 de abril de 2022
as árvores - olavo bilac - soneto comentado
AS ÁRVORES
Na celagem vermelha, que se banha
Da rutilante imolação do dia,
As árvores, ao longe, na montanha,
Retorcem-se espectrais à ventania.
Árvores negras, que visão estranha
Vos aterra? que horror vos arrepia?
Que pesadelo os troncos vos assanha,
Descabelando a vossa ramaria?
Tendes alma também... Amais o seio
Da terra; mas sonhais, como sonhamos,
Bracejais, como nós, no mesmo anseio...
Infelizes, no píncaro do monte,
(Ah! não ter asas!...) estendeis os ramos
À esperança e ao mistério do horizonte...
[ Olavo Bilac - Tarde, 1919 ]
notas
celagem - aspecto do céu ao fim do dia ou no começo
espectrais - fantasmagóricas
bracejais - mexer, agitar galhos
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fica a pergunta: para mais liberdade é preciso mesmo asas?
saiba mais sobre bilac !
terça-feira, 5 de abril de 2022
charlie brown e a resenha de "guerra e paz"
numa certa altura, diz ele que um cão não julga, simplesmente ama.
ponto alto da história é a decisão que charlie toma diante da necessidade de se mostrar bom aluno e resolve fazer resenha de "guerra e paz", do tolstoi. é comovente tudo. e hilário.
charlie brown precisa ser reconhecido por si mesmo, daí poder fazer algum movimento de conquista. não precisa ser melhor que ninguém.
quinta-feira, 31 de março de 2022
"red" é mais do que um painel de conflitos na puberdade
"turning red" é o título original desta animação da disney.
logo, "ficando vermelha" seria tradução mais razoável do que "crescer é uma fera", como se vê na versão em português. uma pena essa má escolha da tradução. o desenho não é sobre puberdade e crescimento, apenas. a personagem "mei" tem 13 anos, vive em toronto, canadá, é menina urbana, mimada pela mãe. de dentro dela, quando há emoções fortes, sai um panda vermelho. isso mesmo: o panda aparece quando ela está à beira do descontrole. a menina se transforma fisicamente no bicho.
a questão conflitante é: fazer parte de um ritual ancestral -- via familares da garota -- e acabar com o panda que vive nela ou conviver com o animal dentro de si. "meu panda, minhas regras", diz a menina, numa certa altura do filme. não vou contar o que acontece, mas, assim como "luca" -- outra produção disney -- muitos de nós temos dificuldade em mostrar à sociedade quem realmente somos, assim como os nossos dilemas. mais do que filme sobre aceitação, "turning red" trata da necessidade de não escondermos nossos medos, nossas fraquezas. nunca.
segunda-feira, 28 de março de 2022
quando a morte etc
[ moon & ba ]
a idade chega e a gente acaba pensando o que é morrer de fato; o que é esse fim, quando vai ser, essas coisas. acho que sempre pensei na morte, mas, ultimamente, com mais regularidade. é da vida pensar na morte, então acostuma-se. deve ser a idade.
talvez devesse buscar solução específica. eufemismo. isso mesmo, "solução específica" é um eufemismo pra "fim". se não sabe o que é "eufemismo", mexa-se, não vou explicar agora.
quinta-feira, 24 de março de 2022
gil vicente, tragédia grega e o racismo
esta semana, conversei com alunos e alunas do curso pré-vestibular sobre gil vicente, dramaturgo português, lá do século 16.
num determinado momento, chegamos a "auto da barca do inferno", peça popular, teatro de rua dos mais famosos em língua portugesa. nessa peça, pessoas que morrem, acabam na frente de duas barcas: uma que vai pro céu, outra para o inferno. comandadas pelo anjo e pelo diabo, respectivamente. um dos personagens que chega é o judeu. ele carrega uma cabra consigo.
pausa: na grécia antiga, o termo "tragédia" pode ter se originado da expressão "canção do bode". ele seria sacrificado em honra a dioniso -- assim mesmo, sem o "i" -- dioniso. o que isso significa? após a invasão romana sobre região grega, encontramos a captura desse item da tragédia pelo cristianismo. desta forma, de modo bem maniqueísta, temos a figura do mal -- para os cristãos -- centrada no demônio, cuja representação é um bode. até hoje.
voltando a vicente, século 16.
o judeu é caracterizado como figura desprezível, à medida que carrega consigo o tal bode, símbolo do mal para os cristãos. resultado: o anjo não o recebe, sequer responde os apelos do judeu. e o diabo não quer levá-lo em sua barca! no fim das contas, o diabo acaba tendo pena do judeu e o leva ao inferno, numa prancha atada ao barco, porque, no limite, ele nem poderia entrar na embarcação.
daí, na aula, pensamos sobre racismo, sobre intolerância. ficamos ainda pasmados com tanto caso de violência sobre o outro simplesmente porque esse "outro" é diferente da gente na cor da pele, no modo como se conecta a seus deuses, na maneira como se veste ou como se comporta sexualmente. é bem doloroso.
a escola é sim um lugar de debate sobre esse tema tão caro a história das nossas gentes. mas não só de escola vive o ser humano. é preciso denunciar casos de intolerância; educar nossas crianças e, aí, sim, na sala de aula, debater com estudantes de qualquer idade essa questão das diferenças. dá pra usar a literatura, a arte plástica, o cinema, a ciência, até o próprio pensamento dá pra usar. e denunciar sem medo casos de racismo. não ficar neutro. só detergente é neutro. você não.
domingo, 20 de março de 2022
repórter do século: homenagem da globo a josé hamilton comove até pedra
conheci josé hamilton ribeiro entre 1978 e 79. ele estava em forma de papel. era um livro: "pantanal amor baguá" que ele escrevera e eu precisava ler para prova de português, lá na sétima ou oitava série. adorei o livro.
tempos depois, ainda século 20, na espera das corridas de fórmula 1, ligava a rede globo e via boa parte do "globo rural". era ele. numa canoa, numa trilha, de balão, no meio de milharal, atrás de arbusto, em cima de cavalo, simulando caça de onça, explicando procedimentos de plantio e colheita, sempre com um texto sóbrio, expondo várias frentes, dentro do tema específico do programa. josé hamilton revelava, em suas reportagens, lado social do tema que tratava, o lado da natureza, as questões econômicas e sempre com algum humor.
hoje, não só a rede globo aberta passou especial sobre a carreira do repórter-escritor, como o canal globonews. se você tem o aplicativo globoplay, acesse. é uma aula de jornalismo o que se vê no panorama de trabalho de josé hamilton, atualmente, morando em uberaba, em sua fazenda.
idade, agora: 86.
tempo de jornalismo: 66 com carteira assinada.
foi premiado de todo jeito, no brasil e lá fora.
uma figura especial. repórter do século. de uma vida toda. aplausos.
domingo, 13 de março de 2022
ninguém viverá nossa dor
[ laerte ]
ninguém viverá nossa dor.
ninguém.
difícil essa constatação. mas é real.
achar motivação para continuar combatendo os males não só da idade que avança, mas do contexto social do brasil de hoje é árduo. parece que o fim não vai chegar com alguma tranquilidade.
violência contra natureza, contra muher, o racismo, a homofobia, os negacionistas antivacina... é muita tristeza!
depressão, pré-diabetes, pressão alta, iminência de catarata, ansiedade e fã da ponte preta são alguns motivos para dormir mal quase sempre.
durante um tempo achei que poderia ter algum acolhimento, poderia ter reconhecimento por esse ou aquele avanço em algum setor da vida, mas é ilusão. cada um tem sua via ápia pra seguir. cada um tem seu amazonas por remar. daí sobra qual tempo ou vontade pra acolher o outro?...
ninguém viverá nossa dor.
saber disso não ajuda meu estado, mas deixa claro o que esperar do dia seguinte.
terça-feira, 8 de março de 2022
8 de março é dia de...
hoje foi meu primeiro dia, na sala do curso pré-vestibular. teria sido semana passada, mas foi feriado.
é o início do curso de literatura. revisão de tudo, foco nos vestibulares do fim do ano. nada de novo aí.
mas calhou de ser no dia 8 de março a aula. então, abri minha caixa de ferramentas, peguei uma das mais pesadas -- o aborto -- e fui com ela pra sala. mostrei poemas de camões, drummond, até bilac. tirinha do calvin também foi. caminho parecia seguro mesmo.
quando mostrei a letra da iza, "dona de mim", já senti que seria um dia bom. a letra é de resistência, é de protesto e bem combina com esse momento em que a violência contra mulheres continua. foi ótimo ler os versos da cantora e compositora. "eu que fiquei quieta, agora vou falar" (iza).
em seguida, coloquei uns títulos na tela que envolvem a questão da violência contra mulher. primeiro: "semana de arte moderna 1922" -- que remete à exposição de anita malfatti, cinco anos antes e a crítica feroz do lobato. crítica que não seria a mesma se fosse a um homem. etc... etc.. . segundo: "angústia", do graciliano (1936). lá o tema "aborto" é escancarado. num brasil patriarcal movido a fundamentalismo pseudo-religioso, só pode dar nisso: aborto, aqui, é proibido. vai vendo. é proibido porque a masculinidade tóxica e retrô decide sobre o corpo da mulher. e, na aula, disse que o corpo da mulher é da mulher mesmo. a decisão é dela. insisti com os estudantes para que me dissessem o que pensavam do que eu estava mostrando, falando. olhem, fui acolhido, principalmente pelas mulheres, ali. algumas agradeceram por ser uma figura masculina a tocar no assunto tão delicado e do onde muitos outros homens fogem. eu quero poder fazer alguma coisa. dar voz, pelo menos. levantar o assunto, na sala de aula. fiquei comovido, cara de palerma, ainda bem que tava de máscara. mas continuo comovido. e você, professor, professora... até quando vai se calar?
segunda-feira, 7 de março de 2022
autor de abolição via vargas entrevistado na tv - campinas
sim, eu mesmo! carlos h carneiro
meu romance "abolição via vargas" ganhou pauta na eptv-campinas, neste março 2022
veja como foi no vídeo abaixo
[ na descrição dele, saiba como comprar ]
domingo, 27 de fevereiro de 2022
para salvar povo brasileiro
- - livros de história
- - livros de literatura
- - livros de ciência
- - orientação sexual
- - combater violência de qualquer ordem
CONTRA IGNORÂNCIA E NEGACIONISMO
- - escolas estruturadas
- - professor(a) assistido(a)
- - comunidade integrada à escola
- - interpretação de texto
- - cesta básica
- - povo vacinado e esclarecido
- - eleger quem apoia tudo isso - -
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022
aula de literatura -- ensino médio -- professor oferece revisão grátis
aulas de revisão de história da literatura.
para ensino médio e pré-vestibulandos.
por quê ? - - alcançar quem precisa; atingir quem tem dificuldade para estudar, seguir em seu curso
quando ? -- agora ! a primeira aula já saiu! inscreva-se no canal!
veja como é! clica no vídeo abaixo
[ tem pergunta pra você responder, na descrição, depois de asssitir ]
sábado, 19 de fevereiro de 2022
dinheiro ou remédio: escolha fácil
[ tem uma líbélula aqui -- foto do autor ]
saúde dá sinais de melhora... a endocrinologista receitou um losartana e vou eu ladeira abaixo com a pressão que já esteve a 16 por 10... espero dormir melhor, pelo menos.
ponte preta perdendo no torneio mequetrefe da federação paulista. perdendo pela terceira vez seguida. único regozijo é saber que o tal pê-esse-gê com tanta gente de cofre cheio tomou três hoje. perdeu pro nantes. e o ex-quase-sempre-contundido ney perdeu pênalti. outro dia foi o grêmio gaúcho que tomou três do modestíssimo frederiquense. que fase das elites do futebol. dinheiro não é tudo, já dizia o filósofo.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
navegar é preciso -- saga de uma saudade de pedra
[ laerte ]
"viver é muito perigoso", já escreveu guimarães rosa. nem precisava.
é perigoso sim porque a gente depende do rebote do outro, quase sempre. e quase sempre a gente vive em função do que o outro diz sobre nós. quando falo "outro" me refiro à sociedade como todo e àquele grupo determinado que nos cerca.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
abolição via vargas - romance
continuo a saga para divulgar meu livro, lançado em dezembro 2021
romance histórico, narrado quase todo o tempo em primeira pessoa. campinas, são paulo. a rua direita é personagem central da narrativa.
gente como santos dumont (o que voa); carlos gomes (o que rege); hercule florence (o que cria); miguel do carmo (o que joga) e bierrenbach (o que fala) fazem parte da trama. ela conta ainda com presidente washington luís, a iara, luiza xavaier de andrade, inês de castro, dentre outros.
aproveita!
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destaques
tudo que move é sagrado
beto guedes tudo que move é sagrado é o primeiro verso da canção "amor de índio", parceria com ronaldo bastos, olha: tu...
postagens mais vistas
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DESENGANO _narcisa amália_ Quando resvala a tarde na alfombra do poente E o manto do crepúsculo se estende molemente, Na...
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já fui um quadro empoeirado, esquecido na parede rachada de um casarão mofado. se bem que não era exatamente um casarão, porque não havia ...