segunda-feira, 29 de setembro de 2025

a rosa das dores

 


carlos ferber foi meu aluno, tempos atrás. não me esqueço. corria o ano de 2008 e ele estava atento, ouvindo breve comentário que eu fazia, em sala de aula, sobre "rosa", depois de lermos "primeiro motivo da rosa", poemeto singelo da não menos singela cecília meireles. estávamos lendo também "rosa do povo" (drummond) e já havíamos comentado "o nome da rosa" (eco), noutra oportunidade, daí o tema botânico e filosófico se fazer presente. 
conversa vai conversa vem, ferber interfere para contar que a tal flor se mantém mais tempo sem murchar se colocarmos, no vaso com água, um comprimido de aspirina. fiquei pensando quais seriam as dores de uma rosa para que pudesse usufruir de renomado quitute. 

cartola tinha dito que as rosas não falam, mas, pelo jeito, podem ter enxaqueca, daí aqueles espinhos todos, não sei. mas fica a dica do século, caso suas rosas reclamem de dor.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

uns vendem, outros dão

 

                                    [ a vendedora de amores, j. vien, séc 18 ]


vem do século
18 a tela de joseph vien, "a vendedora de amores", em que uma moça, humilde, ajoelha-se numa rica sala, diante de figura nobre e de sua acompanhante. a singela vendedora tira de uma cesta um míni-bebê, pela asa, sob o olhar embaçado da provável compradora. não é um anjinho, vou avisando. trata-se de representação do filho de vênus, o cupido. o nome "amor", no plural, indica tudo. amor, cupido.

olhem, o mercantilismo iria se transformar no capitalismo, já sabem e era importante marcar posição através daquilo que o dinheiro pudesse comprar. os amores, na cesta, são novos, gordinhos, parecem inofensivos. talvez sejam. a questão é o motivo que leva à compra. as figuras femininas, na cena, irão usar a compra juntas? 
e
ngraçado que quem oferece os amores é figura de classe social inferior aos luxos que ali na sala se impõem. a vendedora está com traje simples, mais escuro e um pano lhe cobre a cabeça, sinal de que anda bastante, deve ter vários clientes. 
agora, as perguntas que valem uma vida: 
de onde viriam esses amores? bastaria um? quanto custa um amor, daquela cesta?  

uma coisa é certa: vendidos assim, devem ter prazo de validade.


prometeu devia parar de sangrar

           

                                                  [ prometeu - nicolas adam, séc 17 ]
        

vem do grego este termo "prometeu" que significa "premonição". na mitologia, ele teria o poder de prever futuros. então, nesta narrativa grega, prometeu é condenado a ficar acorrentado, acho que isso já se sabe. um detalhe importante está no fato de que quem o acorrenta é vulcano -- seu irmão -- sob ordens de júpiter. por quê o castigo?  o titã prometeu, temendo que raça humana fosse dizimada, rouba parte do conhecimento do olimpo (matemática e arte) e entrega aos homens. isso garantiria uma suposta superioridade sobre os outros animais. no limite, podemos dizer que esse é o mito da criação do ser humano, concordam? agora, o que esse povo vem fazendo hoje com o conhecimento recebido, nem prometeu seria capaz de prever. prometeu é condenado a ficar numa pedra, na cítia. fica acorrentado. seu superior o abandona lá. ele tem uma ferida no flanco, por conta do abutre (cão alado) que lhe come o fígado. sim, você percebeu que essas imagens são bem parecidas com as do novo testamento cristão, surgido séculos depois desta história do escritor ésquilo. mas acho que não estão preparados pra essa conversa.
continuando com a história do dramaturgo: quem surge para consolar o titã prometeu é io. não resolve. pra piorar, ele se apaixona por io, fato que causa ciúme em juno, acarretando numa condenação a io: vagar pelo mundo perseguida por uma mosca gigante. mais terrível que isso só sendo vascaíno.
olhem, prometeu tem crise de carência afetiva. entregou tesouros a outros e, no mínimo, esperava reconhecimentos. errou feio, capotou. se apaixona por io e vê seu sentimento se transformar em tragédia. combo dos horrores completo.

tenho sequelas de um câncer e isso potencializa o que seria a tal carência afetiva. fato. de onde vem essa carência? nas coisas do início da vida que insistem em moer meu caminho, hoje, sexagenário e com disfunções fisiológicas. a carência afetiva ainda está sem dimensão pra mim, então isso não ajuda a alcançar harmonias. essa carência fica me lembrando que prometeu, hoje, mora no espelho. 
   . . . . . .  .  .  .   .   .    .

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quinta-feira, 18 de setembro de 2025

em setembro de 2025: silvia e adler

 

                                                                      os noivos e suas mães


fui ao casamento de silvia e adler, neste setembro. campo limpo paulista. as famílias são de jundiaí. bia kapros, mãe da noiva, era quem eu mais conhecia até então. adler e silvinha são companhia recente. e são lindos.
a cerimônia foi em uma igreja iluminada pelo sol das 16h, toda envidraçada, estrutura de madeira e tudo com leveza e cores entre o esverdeado e o terracota. o detalhe do raminho de alecrim, nos guardanapos sobre os pratos, é um sopro de energia bem-vindo.
teve música, teve leitura, teve protocolo, bênçãos, lágrimas, criança, idosos, riso, energias e casamento. até o carro com latas amarradas na traseira foi detalhe clássico. 
eu gostei porque cerimônia e festa abraçavam os convidados. não fui só plateia, mesmo na festa. suave, jovem, mesmo com muitos convidados acima dos 60 anos. leveza. acho que é a palavra deste dia 13 de setembro. curti. agradecemos! eu e a bia balau!


comunidade n. senhora aprecida

comunidade n. senhora aparecida



noivos _ 2025






domingo, 14 de setembro de 2025

houston, temos um problema

 

                                        
                                      lua um pouco desarrumada depois de 1969

emoção e razão. isso. leio em "autopsicografia" que a emoção entretém a razão, quando ele, poeta, cria seus versos, sua obra. quase sempre é bom misturar um e outro, como compartilhar o desejo e os orgasmos possíveis. emoção não é a perda da razão, sabia?
olhem, em julho constumam comemorar a chegada do homem à lua. foi em 1969. eu vi, pela televisão, acho que era ao vivo. "um pequeno passo para um homem, um grande passo para humanidade", poetizava armstrong, um segundo antes de sujar a lua com seu pé de botina branca. em 2025 são 56 anos, desde então. 56. somando, dá onze. dizem que é número ligado à intuição. que coisa. 

a lua está cheia aqui, sobre a cidade. da minha janela vejo uma forma de coelho pregada nela. muita gente discorda, outros dão risada. pé de coelho. dizem que dá sorte, mas eu sei que armstrong usou o pé esquerdo pra pisar. e onze era o número da cápsula voadora. onze. minha intuição diz que o ser humano não precisava ir tão longe pra provar que não só da razão vive o homem.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

casa

 


setembro, 2025. voltei a um processo terapêutico, voltei a remédio antidepressivo, voltei.

até meados deste ano, 2025, tinha acreditado em avanços e, por algum instante, considerei também que se sentir bem, mentalmente, seria uma senha para abolir medicações que vinha consumindo há tempos... errei. bastou um evento cotidiano pra eu desmoronar em crise de ansiedade e afins. o evento em si é só gota que faltava. pote tava cheio de mágoa e farelos de antigas dores.
voltei. remédio, remédio.
ainda na minh
a cabeça, essa história do cuidado terapêutico rima com dilema, rima com problema que se tem de resolver logo... sei que não é assim -- no campo da saúde mental --, mas são as heranças ancestrais, as inseguranças. enfim, mil coisas. a terapia está indo bem. isso é acalanto.
o trabalho em sala de aula segue, talvez por inércia, talvez por benevolência de quem me contratou. aposentadoria já veio, porque são 39 anos já, em 2025 nessa toada -- a conta começa em 1986, quando carimbam minha carteira de trabalho. daí que não parei, desde então. hoje, trabalho segue. estudantes de classe média, aqui ao meu redor, não são mais estudantes, são plateia. assistem. têm pressa, reclamam de tudo, muitos, hoje, vítimas do excesso de telas, desde a primeira idade... não sabem o que esperar. é dopamina o tempo todo. só pode dar errado. e dá. mas não vou condenar. são escolhas deles. escolhas das famílias deles e, muitas das vezes, do próprio modus operandi das escolas. por essas e outras, voltei aos remédios. processos terapêuticos, mais reflexões, mais elaborar conduta... cansa. talvez fosse hora de dizer não a tudo isso. 

destaques

adeus, meus sonhos

                                 ADEUS, MEUS SONHOS  _  Álvares de Azevedo (1831-52)    Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!    Não levo...

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