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desejo que mata

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  [ fernando g - níquel náusea ] o desejo. de onde ele vem ? como vive? como se reproduz? aquilo que move. para descartes, séc 18, desejo é uma espécie de agitação da alma. como a definição de alma é algo por demais contraditório e quase lúdico, pulemos descartes.  mas o desejo é algo que nos incomoda porque geralmente o que se deseja pode estar longe, então entramos em crise de ansiedade. agora, quando o  desejado fica apenas na cabeça de quem deseja, daí vira artista.  e jeremias? o jeremias da tirinha desejava não desejar e por isso morreu? ou jeremias desejava morrer, então pediu para não ter desejos? é isso?

adeus, meus sonhos

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                                  ADEUS, MEUS SONHOS   _  Álvares de Azevedo (1831-52)    Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!    Não levo da existência uma saudade!    E tanta vida que meu peito enchia    Morreu na minha triste mocidade!    Misérrimo! votei meus pobres dias    À sina doida de um amor sem fruto...    E minh’alma na treva agora dorme    Como um olhar que a morte envolve em luto.      Que me resta, meu Deus?!... morra comigo    A estrela de meus cândidos amores,    Já que não levo no meu peito morto    Um punhado sequer de murchas flores!          Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos , séc 19      nota _     pranteio - choro     sina  -  destino; fado     cândido - pur...

discurso que isola pessoas

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                                               mariane santana, pensadora, é categórica na leitura de um discurso neoliberal que vem levando muita gente a uma situação complicada. compra-se a ideia, hoje, de que cuidando do corpo, dormindo tranquilo, tomando água e afins, a vida será melhor e haverá sucesso. o que está fora do discurso é o contexto social ligado à pessoa que quer encarar essa ideia de curar-se dos males existentes e os possíveis, apenas com movimentos físicos. olhem, é terrível. esse discurso neoliberal individualista faz determinada pessoa crer que se há desconforto -- no trabalho ou na mente -- ele seria responsabilidade da própria pessoa que não se cuidou bem. o tal discurso do auto-cuidado acima de qualquer coisa desconsidera, de fato, a condição social existente. desconsidera seu status, seu entorno. então, lentamente, silencia essa figura e faz c...

letra líquida - romance

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                                                       “ letra líquida "   é obra que mistura de ficção, crítica literária e referências culturais brasileiras em uma narrativa fluida e criativa . sim, eu consegui sintetizar o livro em um parágrafo curto. mas não é só isso.  ao longo das páginas, existem interações entre personagens fictícios e elementos da cultura literária e também da história do brasil. tudo isso cria cenário onde a literatura ganha vida -- de fato -- e se entrelaça com o cotidiano dos protagonistas. eles são três: gaspar, moema e o narrador. eles se envolvem ou são envolvidos pela indígena tupinambá. moema é personagem central. ela nasce de um livro brasileiro, lá no século 18, chamado "caramuru", do frei durão. pois que o enredo gira em torno desta moça tupinambá, figura enigmática e quase mitológica. existe, ...

mês de professor e professora ganharem parabéns

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  é outubro, aqui. pelas escolas, mês de ganhar algum parabéns, ganhar tapinha nas costas e um "vamo-que-vamo"... isso tudo sem menosprezar os remédios.  a classe trabalhista de professores é uma das mais desunidas do país, isso a gente sabe. educadores e educadoras se contentam, até aqui, em pular de prédio em prédio, para dar conta de jornadas exaustivas por semana, em troca de algo em torno de cinco salários mínimos. cinco ou quatro. não sei, mesmo, porque ainda há quem continue. em 2025, eu ainda sou um desses.  diante de estudantes, estou sempre na tentativa de deixar claro que educação não é informação, que aula não é descrição de fatos... enfim, está cada vez mais difícil. principalmente, no universo da classe média. essa juventude desenvolveu uma capacidade de se encapsular que é notável. ela é  filha das gentes que acreditam no fim dos sentimentos ruins e, por isso,  a ideia é não sofrer. então,  ninguém se expõe. e a vida segue, com estudantes em ...

isto não é um sonho

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                                                                         [ isto não é um sonho ]     sonhando acordado    fico tentando saber quem sou    um pensamento forma outro    esse outro forma outro    todos conseguem ir ao passado     fuçam, xeretam, resmungam    nenhum volta    então    mando um outro pensamento    buscar os que se perderam    daí eu durmo

iniciação - josé paulo paes

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        I N I C I A Ç Ã O Com os olhos tapados pelas minhas mãos, os dois seios de A. tremiam no antegozo e no horror da morte consentida.  De ventosas aferradas à popa transatlântica de B., eu conheci a fúria das borrascas e a combustão dos sóis.   Pelas coxas de C. tive ingresso à imêmore caverna onde o meu desejo ficou preso para sempre nas sombras da parede e no latejar do sangue, realidade última que cega e que ensurdece.             [ prosas seguidas de odes mínimas, j paulo paes ]    . . . . .  .  .  .   .   .    .                nota_               i mêmor e: sem memória texto com pretensão sensual e temperos poéticos. o orgasmo seria essa "morte consentida" ... o que chamavam na frança de "pequena morte", ou seja, o orgasmo era visto assim por franceses e francesas do mundo acadêmico. ...

a rosa das dores

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  carlos ferber foi meu aluno, tempos atrás. não me esqueço. corria o ano de 2008 e ele  estava atento, ouvindo breve comentário que eu fazia, em sala de aula, sobre "rosa", depois de lermos "primeiro motivo da rosa", poemeto singelo da não menos singela cecília meireles. estávamos lendo também "rosa do povo" (drummond) e já havíamos comentado "o nome da rosa" (eco), noutra oportunidade, daí o tema botânico e filosófico se fazer presente.  conversa vai conversa vem, ferber interfere para contar que a tal flor se mantém mais tempo sem murchar se colocarmos, no vaso com água, um comprimido de aspirina. fiquei pensando quais seriam as dores de uma rosa para que pudesse usufruir de renomado quitute.  cartola tinha dito que as rosas não falam, mas, pelo jeito, podem ter enxaqueca, daí aqueles espinhos todos, não sei. mas fica a dica do século, caso suas rosas reclamem de dor.

uns vendem, outros dão

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                                        [ a vendedora de amores, j. vien, séc 18 ] vem do século 18 a tela de joseph vien, "a vendedora de amores ", em que uma moça, humilde, ajoelha-se numa rica sala, diante de figura nobre e sua acompanhante. a singela vendedora tira de uma cesta um míni-bebê, pela asa, sob o olhar embaçado da provável compradora. não é um anjinho, vou avisando. trata-se de representação do filho de vênus, o cupido. o nome "amor", no plural, indica tudo. amor, cupido. olhem, o mercantilismo iria se transformar no capitalismo, já sabem e era importante marcar posição através daquilo que o dinheiro pudesse comprar. os amores, na cesta, são novos, gordinhos, parecem inofensivos. talvez sejam. a questão é o motivo que leva à compra. as figuras femininas, na cena, irão usar a compra juntas? comprarão um amor para cada uma?... é para presente?... fiquem à vontade. em francês...

prometeu devia parar de sangrar

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                                                               [ prometeu - nicolas adam, séc 17 ]          vem do grego este termo "prometeu" que significa "premonição". na mitologia, ele teria o poder de prever futuros. então, nesta  narrativa grega, prometeu é condenado a ficar acorrentado, acho que isso já se sabe.  um detalhe importante está no fato de que quem o acorrenta é vulcano -- seu irmão -- sob ordens de júpiter. por quê o castigo?  o titã prometeu, temendo que raça humana fosse dizimada, rouba parte do conhecimento do olimpo (matemática e arte) e entrega aos homens. isso garantiria uma suposta superioridade sobre os outros animais. no limite, podemos dizer que esse é o mito da criação do ser humano, concordam? agora, o que esse povo vem fazendo hoje com o conhecimento recebid...

em setembro de 2025: silvia e adler

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                                                                          os noivos e suas mães f ui ao casamento de silvia e adler, neste setembro. campo limpo paulista. as famílias são de jundiaí. bia kapros, mãe da noiva, era quem eu mais conhecia até então. adler e silvinha são companhia recente. e são lindos. a cerimônia foi em uma igreja iluminada pelo sol das 16h, toda envidraçada, estrutura de madeira e tudo com leveza e cores entre o esverdeado e o terracota. o detalhe do raminho de alecrim, nos guardanapos sobre os pratos, é um sopro de energia bem-vindo. teve música, teve leitura, teve protocolo, bênçãos, lágrimas, criança, idosos, riso, energias e casamento. até o carro com latas amarradas na traseira foi detalhe clássico.  eu gostei porque cerimônia e festa abraçavam os convidados. não f...