sábado, 18 de outubro de 2025

adeus, meus sonhos

 

                         


     ADEUS, MEUS SONHOS  _  Álvares de Azevedo (1831-52)

   Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
   Não levo da existência uma saudade!
   E tanta vida que meu peito enchia
   Morreu na minha triste mocidade!

   Misérrimo! votei meus pobres dias
   À sina doida de um amor sem fruto...
   E minh’alma na treva agora dorme
   Como um olhar que a morte envolve em luto.
 
   Que me resta, meu Deus?!... morra comigo
   A estrela de meus cândidos amores,
   Já que não levo no meu peito morto
   Um punhado sequer de murchas flores!

      Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos, séc 19

     nota_
    pranteio - choro
    sina  -  destino; fado
    cândido - puro; ingênuo; torcedor do vasco

 . . . . . .  .  .  .  .   .   .

poeta diz que está morrendo porque seus sonhos se esfarelaram, não viraram realidade. houve desilusão amorosa: ele gastou seus dias em um "amor sem fruto", disse ele, no verso 6. como seus sonhos deram errado, ele decide se vingar: "morra comigo a estrela...",  ou seja, vai matar os sonhos que ficaram em sua cabeça. o problema é que ele vai junto. 

parece que só o que valia a pena, dentro do amor, era a perfeição, sem tristeza, sem melancolia. olhem, essa visão de que o amor que vale a pena  é só o amor romântico vem durando até hoje.  

domingo, 12 de outubro de 2025

discurso que isola pessoas

                                              


mariane santana, professora e pensadora, é categórica na leitura de um discurso neoliberal que vem levando muita gente a uma situação complicada. compra-se a ideia, hoje, de que cuidando do corpo, dormindo tranquilo, tomando água e afins, a vida será melhor e haverá sucesso. o que está fora do discurso é o contexto social ligado à pessoa que quer encarar essa ideia de curar-se dos males existentes e os possíveis.

olhem, é terrível. esse discurso neoliberal individualista faz determinada pessoa crer que se há desconforto -- no trabalho ou na mente -- ele seria responsabilidade da própria pessoa que não se cuidou bem. o tal discurso do auto-cuidado acima de qualquer coisa desconsidera, de fato, a condição social existente. desconsidera seu status, seu entorno. então, lentamente, silencia essa figura e faz com que ela não questione -- por exemplo -- a chance de estar sendo explorada e passe a crer que é preciso estar sempre 100% em dia consigo mesma e pronto. não critico o cuidado que pessoas tenham consigo próprias, nada disso. a questão é como isso pode afetar a visão de mundo deste alguém: desde consumo do noticiário até o momento de uma eleição, a participação política necessária. troca-se a sociedade e o conhecimento de mundo por uma solidão forçada. é alienação o nome.
enfim, pessoas fazem escolhas. o mundo continua girando. que século, meu deus!

  . . . . . .  .

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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

letra líquida - romance

 


letra líquida" é obra que mistura de ficção, crítica literária e referências culturais brasileiras em uma narrativa fluida e criativa.

sim, eu consegui sintetizar o livro em um parágrafo curto. mas não é só isso. ao longo das páginas, existem interações entre personagens fictícios e elementos da cultura literária e também da história do brasil,. tudo misso cria cenário onde a literatura ganha vida -- de fato -- e se entrelaça com o cotidiano dos protagonistas. eles são três: gaspar, moema e o narrador. eles se envolvem ou são envolvidos pela indígena tupinambá.

moema é personagem central. ela nasce de um livro brasileiro, lá no século 18, chamado "caramuru", do frei durão. pois que o enredo gira em torno desta indígena tupinambá, figura enigmática e quase mitológica. existe, nessa trama toda, uma biblioteca selvagem onde livros e versos se misturam de maneiras inesperadas.
olhem, 
uma tempestade, muito desejo e a chance da literatura salvar uma vida é o que sustenta esse livro.
quando os três -- gaspar, moema e o narrador -- resolvem morar juntos, o que acontece?... aí você precisa ler o livro!

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 clique aqui para ter o seu !  


terça-feira, 7 de outubro de 2025

mês de professor e professora ganharem parabéns

 


é outubro, aqui.
pelas escolas, mês de ganhar algum parabéns, ganhar tapinha nas costas e um "vamo-que-vamo"... isso tudo sem menosprezar os remédios. 

a classe trabalhista de professores é uma das mais desunidas do país, isso a gente sabe. educadores e educadoras se contentam, até aqui, em pular de prédio em prédio, para dar conta de jornadas exaustivas por semana, em troca de algo em torno de cinco salários mínimos. cinco ou quatro.
não sei, mesmo, porque ainda há quem continue. em 2025, eu ainda sou um desses. 
diante de estudantes, estou sempre na tentativa de deixar claro que educação não é informação, que aula não é descrição de fatos... enfim, está cada vez mais difícil. principalmente, no universo da classe média. essa juventude desenvolveu uma capacidade de se encapsular que é notável. ela é filha das gentes que acreditam no fim dos sentimentos ruins e, por isso, a ideia é não sofrer. então,  ninguém se expõe. e a vida segue, com estudantes em meio a laudos médicos, terapias, tristeza, solidão, crises de ansiedade... tudo isso antes dos quinze anos de idade.
olhem, para essa juventude é ensinado que o tédio, a decepção ou a crítica, tudo isso é mau. logo, melhor evitar. é uma geração covarde. ia escrever "geração z", desisti.

então, temos sempre isso: professoras e professores tentado valorizar esse espaço privilegiado -- sala de aula -- para discutir a vida, enquanto parte dos estudantes à sua frente está dopada de remedinhos, a outra parte tenta escapar dali em pensamento, enquanto uma miníscula parcela aproveita. e essa minúscula plateia, geralmente composta por no máximo uma pessoa, é que faz tudo valer a pena. mesmo que este ou esta estudante seja fraca nos estudos, seja assertiva demais ou simplesmente olhe para o professor ou professora como quem vê futuro bom, então vale a pena. é o tal "plantar semente".

parabéns, professoras e professores que ainda resistem. vocês estão de parabéns.

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  ah, sobre a tal geração citada acima, vai essa tirinha
  de @quadrinhosdelavita (instagram), 2025



aqui, charge retirada do site "glamurama.com.br"



sábado, 4 de outubro de 2025

isto não é um sonho

 

                     
                                               [ isto não é um sonho ]


   sonhando acordado
   fico tentando saber quem sou

   um pensamento forma outro
   esse outro forma outro
   todos conseguem ir ao passado

   fuçam, xeretam, resmungam
   nenhum volta

   então

   mando um outro pensamento
   buscar os que se perderam

   daí eu durmo

  

 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

iniciação - josé paulo paes

 


      I N I C I A Ç Ã O

Com os olhos tapados pelas minhas mãos, os dois seios de A. tremiam no antegozo e no horror da morte consentida. 

De ventosas aferradas à popa transatlântica de B., eu conheci a fúria das borrascas e a combustão dos sóis. 

 Pelas coxas de C. tive ingresso à imêmore caverna onde o meu desejo ficou preso para sempre nas sombras da parede e no latejar do sangue, realidade última que cega e que ensurdece.

          [ prosas seguidas de odes mínimas, j paulo paes ]

   . . . . .  .  .  .   .   .    .
              nota_
              imêmore: sem memória

texto com pretensão sensual e temperos poéticos.
o orgasmo seria essa "morte consentida" ... o que chamavam na frança de "pequena morte", ou seja, o orgasmo era visto assim por franceses e francesas do mundo acadêmico. então tá.
olhem, de "A" para "C", passando por "B", uma descrição de relação física com mulheres. o prazer, aqui, é uma travessia turbulenta (horror, borrascas, realidade que ensurdece). a iniciação pode ser referência ao relacionamento físico, sexual. um aprendizado possível, nesse campo. mas a visão, aqui, é bem hétero, masculina mesmo, quase tóxica. as figuras femininas nem nome têm. a prioridade do desejo é só do poeta, masculino, no caso. aqui, o texto destoa dos demais, do livro. destoa porque é incoerente, forçado, diminui a figura feminina. por isso, não gostei. fazer o que.

uma pergunta: é sobre amor, o texto?

 . . . . .  .  .   .    .

   saiba mais!



destaques

adeus, meus sonhos

                                 ADEUS, MEUS SONHOS  _  Álvares de Azevedo (1831-52)    Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!    Não levo...

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