
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto...
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?!... morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!
Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos, séc 19
nota_
pranteio - choro
sina - destino; fado
cândido - puro; ingênuo; torcedor do vasco
. . . . . . . . . . . .
poeta diz que está morrendo porque seus sonhos se esfarelaram, não viraram realidade. houve desilusão amorosa: ele gastou seus dias em um "amor sem fruto", disse ele, no verso 6. como seus sonhos deram errado, ele decide se vingar: "morra comigo a estrela...", ou seja, vai matar os sonhos que ficaram em sua cabeça. o problema é que ele vai junto.
parece que só o que valia a pena, dentro do amor, era a perfeição, sem tristeza, sem melancolia. olhem, essa visão de que o amor que vale a pena é só o amor romântico vem durando até hoje.






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